quarta-feira, 7 de maio de 2008

ENTREVISTA COM MARCIO MOREIRA: A VOLTA DE "SANGUE NO PESCOÇO DO GATO" AOS PALCOS

"Sangue no Pescoço do Gato", peça de formatura dos formandos dos alunos da Escola de Teatro Leonardo Alves (ETLA) vai reestrear sábado agora, dia 10 de Maio (coincidentemente no dia do meu aniversário ^_^) nos palcos da Fundição Progresso (RJ) Conforme já publiquei aqui antes, eu iria fazer mais divulgações em torno desse trabalho (afinal, eu também faço parte dele). E pra isso, eu trago hoje uma entrevista que eu fiz com Márcio Moreira, diretor da peça, professor de intepretação da ETLA e diretor e fundador da Companhia de Atores Invisíveis. O Marcio é uma pessoa incrível! Foi meu professor e meu diretor, a pessoa que me iniciou nesse universo fantástico que é o teatro. Mas eu sou suspeito pra falar dele, aliás, não só dele, como da peça também (risos). Com 15 anos de carreira, nosso caríssimo "MM" contou histórias bem bacanas nesse bate papo que tivemos. Confiram e Opinem:

YC: Como foi que surgiu a idéia de trabalhar essa peça, ainda mais com uma turma de formandos?

MM: Eu sempre procurei desafios no meu trabalho de diretor. Conheci a peça através do David Herman, quando ele a montou na CAL. E eu adoro o texto. Achei que o momento fosse propício, então juntei o útil ao agradável e resolvi montar.

YC: Qual foi a concepção usada para a peça ficar como está?

MM: Usei minha intuição, minha boa vontade, tudo que acumulei de conhecimento até o presente momento. Coisas que ouvi do David também, pois se você comparar as montagens, não tem nada a ver uma com a outra e eu procurei fazer dentro do meu caminho, daquilo que eu acredito e já venho trilhando já há algum tempo.

YC: Como é trabalhar com o uso de multimídia durante a peça? Como surgiu essa idéia?

MM: Isso não é nada novo, isso é feito há muito tempo. Eu achei que nessa montagem, isso cabia muito bem pois o Fassbinder, o autor da peça, era essencialmente um cineasta, mais do que um homem de teatro, ele era um homem de cinema. Então, a grande sacada foi ampliar primeiramente a Phoebe, porque aquilo ali é a visão dela do mundo, tudo que ela adquiriu. E eu não queria mostrar isso de maneira óbvia. Por isso resolvi ir até as origens do Fassbinder e criar um parelelo cinematográfico com tudo que estava acontecendo em cena.


YC: Como é o desafio de trabalhar com uma turma de formatura em um texto tão difícil?

MM: Então, é um desafio mesmo (risos). Por mais que as pessoas estivessem unidas e com bastante vontade, é um texto bastante complexo pro nível de maturidade artística da maioria do grupo. Mas o grupo tava com tanta vontade, que acabou sendo possível fazer um trabalho bacana e o tempo vai colocar as coisas nos seus devidos lugares.

YC: Pelo que você tem observado, que tipo de reação você acha que o texto vem gerando nas platéias que assistiram até agora?

MM: Eu acho que o grande teste virá agora, com a peça em cartaz na Fundição Progresso. O público que tivemos na ETLA (Escola de Teatro Leonardo Alves) me pareceu ser pessoas muito próximas ao elenco, familiares e amigos. Essas pessoas tendem a olhar com bons olhos, pois são os seus que estão em cena. Mas eu acho que de qualquer maneira, o propósito não foi fazer com que a peça fosse apreciada de primeira, pra que a galera que assistisse ficasse amarradona. Ela é mais uma peça pra se fazer reflexão, ou seja, ela atinge a um público mais específico.

YC: O que mais te agradou e o que mais te desagradou dentro dessa montagem?

MM: O que mais me agradou foi a equipe, que supriu algumas dificuldades. Quando eu falo equipe, eu falo de todos, não só dos atores. Os atores ficaram muito a vontade, e já por causa disso foi possível e isso me agradou muito! Foi a primeira vez que eu senti isso tão intensamente dirigindo uma peça de formatura. O que me desagradou... acho que não tem nada que tenha me desagradado, não tenho nada marcado. O processo verdadeiro entre as pessoas traz momentos de tensão, faz parte. Mas não houve nada que eu pudesse dizer que me desagradou. Estou bastante satisfeito.

YC: E você acha que o espetáculo tende a ter uma vida longa?

MM: Eu acho que isso só vai depender das pessoas. Meu objetivo é manter essa peça viva até Agosto, para fazermos um belo “encerramento” no Festival do CCBB. Daí pra frente, é com o grupo. Eu tenho essa meta e gostaria de chegar até lá.

YC: Vamos falar um pouquinho de você. Como começou a sua vida artística?

MM: Eu comecei como a maioria, com um grupo, numa escola. Mas o grupo que eu fazia parte já visava intenções profissionais. Então eu comecei já fazendo espetáculos e produzindo com objetivo de levar os espetáculos pra fora das paredes da escola. Eu já fazia teatro há um bom tempo e senti a necessidade de me profissionalizar. Então acabei vindo pra ETLA e me formei lá. Também possuo licenciatura em Educação Artística pela UERJ. Já estou com 15 anos de Profissão, completei 10 anos como Professor nesse ano de 2008 e como Diretor há 8 anos.

YC: Você também é fundador e diretor da Companhia de Atores Invisíveis. Conta um pouquinho sobre o que é essa Companhia que você fundou.

MM: A companhia foi um reflexo natural da minha vida artística. Eu sempre fui buscando vivências dentro de companhias desde 93. Quando eu me vi dentro de um trabalho que eu gostava muito, feito por uma companhia que trabalhava com Shakespeare voltado pro público infanto-juvenil, eu resolvi fundar a minha própria e colocar nela tudo que eu acredito.
É um grupo que se inspira no livro “O Ator Invisível” do ator japonês Yoshi Oida, mas que obviamente não fica só nisso. É um grupo que busca sua identidade artística e pra isso, é preciso que a gente desenvolva a nossa dramaturgia; ou seja, é um trabalho complexo não só na produção de espetáculos, mas de treinamento, na busca da compreensão de uma linguagem artística específica de interpretação, corpo, voz e estética. A nossa busca é criar uma coisa nossa.

YC: O primeiro espetáculo da Companhia foi “Expectantes”, certo?

MM: Espetáculo sim. Mas a nossa primeira aparição foi em performances que eu e minha esposa Katia, que dirige a companhia comigo, fizemos em instalações de artes plásticas. Criamos a performance “A Expectativa” e chegamos a apresentá-la três vezes num projeto tipo “Ação-Cidadania” que acontece todo final de ano; e fizemos também na galeria de arte da faculdade Bennet. Ficamos com vontade de aprofundar o tema de expectativa e sentimos a necessidade de criar um espetáculo que desse conta de falar disso, que foi o Expectantes. O processo começou em 2005 e estreamos em Abril de 2006. Desde a performance, já usavamos o nome da Companhia e ficamos em cartaz até o final de 2007 na Fundição Progresso.

YC: E agora pra 2008, alguma coisa em vista?

MM: Estamos preparando um novo espetáculo, que inicialmente será pra Outubro de 2008, mas não temos certeza, pois o importante pra nós é o processo, tanto quanto a apresentação. Estamos trabalhando em cima de uma adaptação de Hamlet, só que com uma pegada japonesa. Como “Expectantes” trabalhou com o tema “A Expectativa”, nesse novo espetáculo queremos trabalhar com o tema “A Escolha”, as escolhas que a gente faz e pra onde elas nos levam. Estamos pesquisando sobre Kabuki, Nô, Kiogen, indo muito em cima dessas fontes.

YC: O que você diria para um ator novo que quer entrar no mercado? Que orientações você daria?

MM: Tem muita coisa a ser dita, mas o que posso resumir é que não se crie muita expectativa de que “em tanto tempo eu tenho que chegar a tal lugar.” Eu acho isso bobagem. Primar sempre a arte, amar a arte que é o principal. O resto é tudo conseqüência do que você faz e do que você constrói.

YC: Num país como o Brasil, com a arte sendo desvalorizada da maneira que é, é possível para um ator manter a chama da arte acesa e viver de teatro?

MM: É muito complicado. Eu acho que todo mundo passa, inclusive eu mesmo já passei, por momentos em que a gente tem vontade de chutar o balde, de desistir, porque o trabalho é muito grande e o retorno é em longo prazo. Mas como eu acredito que tudo que a gente constrói hoje vem amanhã, eu acredito na cadeia dos acontecimentos, a pessoa tem que acreditar mesmo e fazer o que ela gosta, não visar retorno imediato, e uma hora acaba dando certo.

YC: Marcio, eu queria agradecer a você por ter me cedido essa entrevista, e deixar um espaço aberto pra você divulgar a companhia e deixar uma mensagem pra quem estiver lendo aqui no blog.

MM: Sábado agora dia 10 de Maio, “Sangue no Pescoço do Gato” estreando na Fundição Progresso, no Espaço Vídeo Fundição. Todos os sábados de maio, as 20:00 estaremos lá. Quem quiser prestigiar, será muito bem vindo!
E pra quem quiser conhecer a Companhia de Atores Invisíveis, pode acessar o nosso site: http://www.invisiveis.subtom.com.br/Quem quiser saber um pouquinho mais, é só clikar no nosso blog: www.invisiveis.subtom.com.br/blog
Também temos uma comunidade no orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=32494619 e um perfil, pra quem quiser entrar em contato: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=11999973758681732630
É isso. Muito obrigado e um abraço a todos!

PEÇA DOS FORMANDOS DA ESCOLA DE TEATRO LEONARDO ALVES:
"SANGUE NO PESCOÇO DO GATO"
DE: RAINER WERNER FASSBINDER
DIAS: 10, 17, 24 e 31 de Maio
HORÁRIO: 20:00
PREÇO: R$ 10,00 (Meia entrada para estudantes)
LOCAL: FUNDIÇÃO PROGRESSO (Rua dos Arcos 24 - Lapa)

Um comentário:

Erika Liporaci disse...

Marcio Moreira é o cara!!! Sou muito fã dele e achei a entrevista excelente para que outras pessoas também conheçam essa pessoa tão batalhadora, talentosa e profissional.