Dito e feito! A promessa fora cumprida. Iron Maiden voltou ao Brasil em 2009, trazendo a segunda parte da turnê para o Rio de Janeiro e outras cidades inéditas, como Manaus, Belo Horizonte, Brasília e Recife. E o filme foi lançado em premiere exclusiva no Rio, no Cine Odeon, que teve ingressos de preço esgotado em menos de 2 horas de abertura de bilheteria. Em Abril desse ano, esse filme/documentário, “Flight 666” irá direto para os cinemas, antes de seu lançamento oficial em dvd.
O dia da Premiere foi o mesmo dia do show no Rio, na Praça da Apoteóse, o dia 14 de Março. Esse show era aguardado por vários cariocas, principalmente porque na primeira parte da turnê, não foi possível para a banda trazer o palco completo, com os templos, pirâmides, esfinges e com todos os efeitos e pirotecnias possíveis e imagináveis que faziam parte do show. Não que isso fizesse diferença para atrair o público, mas a relação do Iron Maiden com o Brasil sempre foi muito forte, e nenhum integrante da banda nunca escondeu isso. O Brasil merecia ter o show completo e uma promessa havia sido feita e honrada! O repertório dessa segunda parte da turnê foi alterado. Aí vem as polêmicas. Não que o repertório atual pudesse desagradar alguém, mas é inevitável surgir um questionamento: Por que tirar determinadas músicas que estavam sendo tocadas na primeira parte da turnê e que estão de acordo com a proposta da mesma, e substituir por outras que já são habitualmente tocadas em shows tradicionais? Essa pergunta passou batida pela maioria das pessoas presentes no show, mas ficou na minha cabeça e na de poucos que, assim como eu, tem uma grande paixão musical pela banda e sua história, mas não possui um fanatismo no coração. Enfim, comentarei melhor sobre isso durante a resenha do show.
O dia estava esquisito. Um temporal desabou no Rio no dia anterior. A preocupação era como estaria o tempo na hora do show. Felizmente, a chuva que tinha que cair, caiu antes e não houve nenhum empecílio meteorológico. O público, 25 mil pessoas, estava muito calmo, mas ansioso. O som ambiente durante a espera foi o melhor possível. E a pontualidade britânica impressionou, visto que shows nacionais e internacionais nessa cidade NUNCA começam na hora. As 20:30, Lauren Harris, filha do Baixista e dono do Iron Maiden, Steve Harris, sobe ao palco e faz sua apresentação de abertura. Lauren acompanhou a banda durante quase toda a turnê abrindo pra eles. Seu estilo é um Hard Rock farofa misturado com Avril Lavigne. Sua bandinha de 3 integrantes é boa e fez o dever de casa. Seu show teve duração de meia hora e foi o suficiente pra não esfriar o público e não cansá-los também. Afinação de intrumentos aqui e ali, roadies pra baixo e pra cima no palco, o público já estava a toda querendo que a "Donzela" entrasse em cena.
21:30 em ponto, a canção “Doctor Doctor” da banda UFO (banda esta que está entre as influências do Maiden) começou a tocar bem alto. Como já é sabido por muitos, esse era o sinal de o show estava pra começar. Ao final da música, as luzes se apagaram e os telões foram ligados. Com imagens do avião da banda, o Ed Force One, e de várias outras com o som de "Transylvania" (em playback) era sinal de que o show começaria. E eis que aparece Winston Churchill, Primeiro Ministro Britânico na época da Segunda Guerra Mundial, e várias imagens de aviões de guerra. Com seu tradicional discurso de guerra, todo mundo já sabia qual era a primeira música:
ACES HIGH. Não existe música melhor do que essa pra abrir um show do Iron Maiden, ainda mais numa turnê desse estilo. E foi fantástico! Uma forte explosão trouxe os caras pra cena e Bruce Dickinson, o “Mr Air Raid Siren” já chegou detonando (assim como o resto da banda), se mostrando em ótima forma, melhor até do que na época do auge (coisa que já vinha sendo mais do que comprovada ao longo dos anos, desde sua volta ao Maiden, há exatos 10 anos). Essa música é um clássico absoluto. A sensação que temos é de visualizar um avião de guerra em zig zag com ataques e bombardeios. E o côro do público no refrão arrepia a espinha de qualquer um. Dando sequência direta, veio WRATHCHILD, uma música poderosa e punk do 2° disco da banda, “Killers”. Essa foi uma música que não estava no set-list da primeira parte da turnê e entrou agora. E cá entre nós, totalmente dispensável! Apesar de ser uma música excelente e que gera sempre grande resposta por parte do público, essa música é tocada em todos os shows tradicionais da banda, tendo muito bem continuado dispensada dessa turnê, ao invés de entrar no lugar de uma música mais tradicional ou rara de ser tocada. Mas quem se importava com isso além de mim e mais uma meia dúzia? Ninguém! O público pulou e se esvaiu de cantá-la. Na sequência, “TWO MINUTES TO MIDNIGHT”. A segunda faixa do album "Powerslave" sempre é bem vinda pelo público, com riffs avassaladores de Rock N´Roll genuíno e o famoso refrão sempre cantado pela platéia! (e com direito a "Scream for me Rio de Janeiro!") Pronto, todo mundo já estava em ponto de bala e querendo mais!
Em seguida, mais uma surpresa: PHANTOM OF THE OPERA. O clássico do 1° album da banda, quase nunca tocado, fez a galera toda delirar e cantar até as melodias na forma de “oooohhh ooohhhh”. Um show a parte das guitarras, apesar de Janick Gers ter tocado a parte do solo de Adrian Smith. Não vou entrar no mérito da discussão sobre os 3 guitarristas. Isso já foi muito discutido em vários sites, foruns e blogs, e debater isso aqui, na resenha de um show, desvirtuaria totalmente o foco, visto que seria preciso fazer uma viagem por vários albuns da banda pra estabelecer parâmetros. Mas no show, foi aquela mesma coisa de sempre: Janick enrolado e sujando os solos, mas fazendo sua performance teatral que agrada várias pessoas e irrita muitas outras (como eu por exemplo), e Adrian roubando a cena na sua discrição e concentração. E Dave Murray no meio, fazendo sua parte e sempre carismático, com sorriso no rosto e agradando a todos. Não podemos deixar de citar o dono da banda, pois Steve Harris também roubou a cena com suas linhas de baixo, que estavam fazendo tremer até as arquibancadas do sambódromo. E nessa música então... Impossível descrever o momento, foi sensacional!
Seguindo o show, Bruce veste o uniforme vermelho da Cavalaria Inglesa e pega a bandeira da Inglaterra. Não podia ser outra senão THE TROOPER. Impressionante como essa música mexe com as pessoas e agita uma platéia inteira que, de acordo com o rítmo e a história na letra da música, parece se transformar em cavalos e cavalgar pra frente e pra trás, cantando a música inteira em uníssono! Sensacional! Aliás, vale um destaque para a forma física dos caras! Nenhum deles (Bruce principalmente) pára durante o show! Parecem um bando de mosquitos elétricos se mexendo e agitando de um lado pro outro. Haja pique e energia pra isso!
RIME OF THE ANCIENT MARINER. A famosa música de 13 minutos que fecha o "Powerslave" esteve presente durante toda a turnê. Todo mundo sabia disso antes mesmo da turnê começar, mas mesmo assim, todos pareciam incrédulos ao ver esse épico, um dos mais cultuados da banda, ser executado ali, na íntegra, como há 25 anos eles não tocavam. E o público cantando tudo, até a parte falada! Incrível! No palco, o cenário e os efeitos eram os melhores possíveis! O cenário escuro, com o painel do mar, e objetos soltos, parecendo lascas de madeira e navio. Nicko McBrain também teve destaque nessa música. Além de marcar as milhões de variações, cuidou de toda parte da percussão na parte lenta, fazendo uma sonoplastia arrepiante! Na metade da música, muita fumaça, como se fosse a neblina. E na hora do solo, uma sequência de fogos e explosões no teto do palco que embasbacaram muita gente! E o figurino de Bruce era a capa preta, representando a morte e o velho marinheiro ao mesmo tempo. Brilhante e perfeito!
RUN TO THE HILLS foi a próxima. Essa música é outra que sempre está presente em todos os shows e esteve presente na primeira parte da turnê. E eu bati contra isso. Se era pra inserir outras músicas do período antigo e limar algumas da turnê passada, essa era uma que poderia ter sido limada, pois além de estar presente em todos os shows regulares, esteve na primeira parte da turnê. Mas o público não estava nem aí! Berraram bem alto a parte do “We gave him hell!” e o refrão, além de terem pulado e galopado que nem loucos, o que era muito bacana de se olhar da arquibancada, diga-se de passagem!
HALLOWED THY NAME foi a próxima. Essa música é uma das coisas mais espetaculares do Maiden! Performance imbatível, apesar de Bruce também aparentar estar cansado dela. Mesmo assim, ela rouba a cena e não tem como ficar de fora. Eu só achei que ela estava deslocada nesse set. Tocar essa música antes de um bis, eu particularmente não acho muito legal, porque ela tem cara de final de show. E de certa forma, a sequência anterior das músicas estavam longas, e por mais que isso não canse o público, cansa a banda, visto que não há intervalos e nem solos individuais, não sobrando tempo pra ninguém descansar. Mesmo assim, foi uma grande performance, onde Bruce e os guitarristas roubaram a cena! Aquela batidinha de sino com as guitarras e o baixo são demais! Sem falar na letra e nas mudanças de harmonia nos solos... Clássico Absoluto!
"Scream for me Brazil! Scream for me Brazil!" THE IRON MAIDEN. A faixa título do primeiro album da banda indicava a hora do fim da primeira parte do show. Muitos anseavam esse momento, não pelo fim do show ou da música em si, mas pra ver a surpresa que não esteve presente na turnê do ano passado. Depois do solo, ocorre uma mega explosão, e a esfinge que estava atrás da bateria de Nicko se abre igual a um sarcófago, e de dentro dela, surge um Eddie na versão múmia, bem maior que o da turnê de 84/85 e esticando as mãos, como se fosse atacar e agarrar o público. Foi um momento sensacional e de show teatral puro! Encerramento excelente da primeira parte do show! A banda sai do palco, mas antes rola a distribuição de munhequeiras, palhetas, pratos, baquetas e tudo que tem direito.
THE EVIL THAT MEN DO, infelizmente a única música representando o album “Seventh Son of Seventh Son”. Refrão cantado em uníssono por todos e com muita empolgação, e na hora do solo, um Eddie Futurista, o Cyborg da capa do “Somewhere in time” com mais de 3 metros de altura, entrava no palco, apontava a mira laser vermelha no olho esquerdo pra platéia e também apontava a arma pra todos. Momento excelente!
E pra fechar, SANCTUARY. Fui contra a inclusão dessa também. Sempre foi tocada a exaustão e não se encaixa no contexto de alguma forma. Desnecessário limar uma música pra enfiar essa. Mas enfim, animou o público e no meio dela, Bruce apresentou a banda, agradeceu a todos, falou da relação com o Brasil e do filme: “Brazil, you are the stars of the fucking show”. Foi engraçado ouvir isso, não nego. No final, aplausos calorosos e uma saída tranquila do local, as 23:30 em ponto.
Balanço geral: 2 horas de show com 16 músicas. Bom? Sim, muito bom! Mas com certeza poderia ter sido muitíssimo melhor! Por que? Por causa do repertório e em partes, da forçação de barra pra dar continuidade na turnê que vai encerrar agora em Abril na Flórida. Achei uma pena limarem CAN I PLAY WITH MADNESS, THE CLAIRVOYANT, HEAVEN CAN WAIT, REVELATIONS e MOONCHILD. Adorei CHILDREN OF THE DAMMED E PHANTOM OF THE OPERA no set, mas francamente, inserir WRATHCHILD e SANCTUARY não foi muito prudente limando as músicas que citei. Se era pra limar, que trocassem por coisas que não são tocadas há muito tempo, como FLIGHT OF ICARUS, CAUGHT SOMEWHERE IN TIME, KILLERS, PROWLER, enfim... opções não faltariam. 1 música do "Seventh Son" e 1 música do "Somewhere in time", particularmente, achei uma bola fora dentro da proposta da turnê. Podem me chamar de cético, de exigente, dizer que eu não sei curtir show, que Iron é Iron, que foi foda do mesmo jeito, enfim, falem o que quiser. Mas esse é meu ponto de vista: Iron Maiden é uma banda que tem pique pra fazer show de 2 horas e meia, até 3 horas; e podem até fazer, inserindo um intervalo de 15 minutos, que nem o Rush, Dream Theater e outras bandas fazem. Mas é aquilo: Pra que fazer isso, se o que eles dão ao público, o público adora, ovaciona e sai satisfeito? Não faz muito sentido mesmo. Isso é só pra exigentes ou fãs de música como eu e uma minoria
IRON MAIDEN - SOMEWHERE BACK IN TIME WORLD TOUR - FINAL LEG 2009:
12/03 - Manaus
14/03 - Rio de Janeiro
15/03 - São Paulo
18/03 - Belo Horizonte
20/03 - Brasília
31/03 - Recife
Bruce Dickinson: Vocal
Steve Harris: Baixo
Adrian Smith: Guitarra
Dave Murray: Guitarra
Janick Gers: Guitarra
Nicko McBrain: Bateria
SET-LIST:
Intro: Doctor Doctor (playback) / Transylvania (playback)
1 - Churchill´s Speech / Aces High
2 - Wrathchild
3 - Two Minutes To Midnight
4 - Children of the Dammed
5 - Phantom of the Opera
6 - Wasted Years
7 - The Trooper
8 - Rime of the Ancient Mariner
9 - Powerslave
10 - Run to the hills
11 - Fear of the dark
12 - Hallowed be thy name
13 - Iron Maiden
14 - The Number of the Beast
15 - The Evil That Men Do