quarta-feira, 7 de maio de 2008

ENTREVISTA COM MARCIO MOREIRA: A VOLTA DE "SANGUE NO PESCOÇO DO GATO" AOS PALCOS

"Sangue no Pescoço do Gato", peça de formatura dos formandos dos alunos da Escola de Teatro Leonardo Alves (ETLA) vai reestrear sábado agora, dia 10 de Maio (coincidentemente no dia do meu aniversário ^_^) nos palcos da Fundição Progresso (RJ) Conforme já publiquei aqui antes, eu iria fazer mais divulgações em torno desse trabalho (afinal, eu também faço parte dele). E pra isso, eu trago hoje uma entrevista que eu fiz com Márcio Moreira, diretor da peça, professor de intepretação da ETLA e diretor e fundador da Companhia de Atores Invisíveis. O Marcio é uma pessoa incrível! Foi meu professor e meu diretor, a pessoa que me iniciou nesse universo fantástico que é o teatro. Mas eu sou suspeito pra falar dele, aliás, não só dele, como da peça também (risos). Com 15 anos de carreira, nosso caríssimo "MM" contou histórias bem bacanas nesse bate papo que tivemos. Confiram e Opinem:

YC: Como foi que surgiu a idéia de trabalhar essa peça, ainda mais com uma turma de formandos?

MM: Eu sempre procurei desafios no meu trabalho de diretor. Conheci a peça através do David Herman, quando ele a montou na CAL. E eu adoro o texto. Achei que o momento fosse propício, então juntei o útil ao agradável e resolvi montar.

YC: Qual foi a concepção usada para a peça ficar como está?

MM: Usei minha intuição, minha boa vontade, tudo que acumulei de conhecimento até o presente momento. Coisas que ouvi do David também, pois se você comparar as montagens, não tem nada a ver uma com a outra e eu procurei fazer dentro do meu caminho, daquilo que eu acredito e já venho trilhando já há algum tempo.

YC: Como é trabalhar com o uso de multimídia durante a peça? Como surgiu essa idéia?

MM: Isso não é nada novo, isso é feito há muito tempo. Eu achei que nessa montagem, isso cabia muito bem pois o Fassbinder, o autor da peça, era essencialmente um cineasta, mais do que um homem de teatro, ele era um homem de cinema. Então, a grande sacada foi ampliar primeiramente a Phoebe, porque aquilo ali é a visão dela do mundo, tudo que ela adquiriu. E eu não queria mostrar isso de maneira óbvia. Por isso resolvi ir até as origens do Fassbinder e criar um parelelo cinematográfico com tudo que estava acontecendo em cena.


YC: Como é o desafio de trabalhar com uma turma de formatura em um texto tão difícil?

MM: Então, é um desafio mesmo (risos). Por mais que as pessoas estivessem unidas e com bastante vontade, é um texto bastante complexo pro nível de maturidade artística da maioria do grupo. Mas o grupo tava com tanta vontade, que acabou sendo possível fazer um trabalho bacana e o tempo vai colocar as coisas nos seus devidos lugares.

YC: Pelo que você tem observado, que tipo de reação você acha que o texto vem gerando nas platéias que assistiram até agora?

MM: Eu acho que o grande teste virá agora, com a peça em cartaz na Fundição Progresso. O público que tivemos na ETLA (Escola de Teatro Leonardo Alves) me pareceu ser pessoas muito próximas ao elenco, familiares e amigos. Essas pessoas tendem a olhar com bons olhos, pois são os seus que estão em cena. Mas eu acho que de qualquer maneira, o propósito não foi fazer com que a peça fosse apreciada de primeira, pra que a galera que assistisse ficasse amarradona. Ela é mais uma peça pra se fazer reflexão, ou seja, ela atinge a um público mais específico.

YC: O que mais te agradou e o que mais te desagradou dentro dessa montagem?

MM: O que mais me agradou foi a equipe, que supriu algumas dificuldades. Quando eu falo equipe, eu falo de todos, não só dos atores. Os atores ficaram muito a vontade, e já por causa disso foi possível e isso me agradou muito! Foi a primeira vez que eu senti isso tão intensamente dirigindo uma peça de formatura. O que me desagradou... acho que não tem nada que tenha me desagradado, não tenho nada marcado. O processo verdadeiro entre as pessoas traz momentos de tensão, faz parte. Mas não houve nada que eu pudesse dizer que me desagradou. Estou bastante satisfeito.

YC: E você acha que o espetáculo tende a ter uma vida longa?

MM: Eu acho que isso só vai depender das pessoas. Meu objetivo é manter essa peça viva até Agosto, para fazermos um belo “encerramento” no Festival do CCBB. Daí pra frente, é com o grupo. Eu tenho essa meta e gostaria de chegar até lá.

YC: Vamos falar um pouquinho de você. Como começou a sua vida artística?

MM: Eu comecei como a maioria, com um grupo, numa escola. Mas o grupo que eu fazia parte já visava intenções profissionais. Então eu comecei já fazendo espetáculos e produzindo com objetivo de levar os espetáculos pra fora das paredes da escola. Eu já fazia teatro há um bom tempo e senti a necessidade de me profissionalizar. Então acabei vindo pra ETLA e me formei lá. Também possuo licenciatura em Educação Artística pela UERJ. Já estou com 15 anos de Profissão, completei 10 anos como Professor nesse ano de 2008 e como Diretor há 8 anos.

YC: Você também é fundador e diretor da Companhia de Atores Invisíveis. Conta um pouquinho sobre o que é essa Companhia que você fundou.

MM: A companhia foi um reflexo natural da minha vida artística. Eu sempre fui buscando vivências dentro de companhias desde 93. Quando eu me vi dentro de um trabalho que eu gostava muito, feito por uma companhia que trabalhava com Shakespeare voltado pro público infanto-juvenil, eu resolvi fundar a minha própria e colocar nela tudo que eu acredito.
É um grupo que se inspira no livro “O Ator Invisível” do ator japonês Yoshi Oida, mas que obviamente não fica só nisso. É um grupo que busca sua identidade artística e pra isso, é preciso que a gente desenvolva a nossa dramaturgia; ou seja, é um trabalho complexo não só na produção de espetáculos, mas de treinamento, na busca da compreensão de uma linguagem artística específica de interpretação, corpo, voz e estética. A nossa busca é criar uma coisa nossa.

YC: O primeiro espetáculo da Companhia foi “Expectantes”, certo?

MM: Espetáculo sim. Mas a nossa primeira aparição foi em performances que eu e minha esposa Katia, que dirige a companhia comigo, fizemos em instalações de artes plásticas. Criamos a performance “A Expectativa” e chegamos a apresentá-la três vezes num projeto tipo “Ação-Cidadania” que acontece todo final de ano; e fizemos também na galeria de arte da faculdade Bennet. Ficamos com vontade de aprofundar o tema de expectativa e sentimos a necessidade de criar um espetáculo que desse conta de falar disso, que foi o Expectantes. O processo começou em 2005 e estreamos em Abril de 2006. Desde a performance, já usavamos o nome da Companhia e ficamos em cartaz até o final de 2007 na Fundição Progresso.

YC: E agora pra 2008, alguma coisa em vista?

MM: Estamos preparando um novo espetáculo, que inicialmente será pra Outubro de 2008, mas não temos certeza, pois o importante pra nós é o processo, tanto quanto a apresentação. Estamos trabalhando em cima de uma adaptação de Hamlet, só que com uma pegada japonesa. Como “Expectantes” trabalhou com o tema “A Expectativa”, nesse novo espetáculo queremos trabalhar com o tema “A Escolha”, as escolhas que a gente faz e pra onde elas nos levam. Estamos pesquisando sobre Kabuki, Nô, Kiogen, indo muito em cima dessas fontes.

YC: O que você diria para um ator novo que quer entrar no mercado? Que orientações você daria?

MM: Tem muita coisa a ser dita, mas o que posso resumir é que não se crie muita expectativa de que “em tanto tempo eu tenho que chegar a tal lugar.” Eu acho isso bobagem. Primar sempre a arte, amar a arte que é o principal. O resto é tudo conseqüência do que você faz e do que você constrói.

YC: Num país como o Brasil, com a arte sendo desvalorizada da maneira que é, é possível para um ator manter a chama da arte acesa e viver de teatro?

MM: É muito complicado. Eu acho que todo mundo passa, inclusive eu mesmo já passei, por momentos em que a gente tem vontade de chutar o balde, de desistir, porque o trabalho é muito grande e o retorno é em longo prazo. Mas como eu acredito que tudo que a gente constrói hoje vem amanhã, eu acredito na cadeia dos acontecimentos, a pessoa tem que acreditar mesmo e fazer o que ela gosta, não visar retorno imediato, e uma hora acaba dando certo.

YC: Marcio, eu queria agradecer a você por ter me cedido essa entrevista, e deixar um espaço aberto pra você divulgar a companhia e deixar uma mensagem pra quem estiver lendo aqui no blog.

MM: Sábado agora dia 10 de Maio, “Sangue no Pescoço do Gato” estreando na Fundição Progresso, no Espaço Vídeo Fundição. Todos os sábados de maio, as 20:00 estaremos lá. Quem quiser prestigiar, será muito bem vindo!
E pra quem quiser conhecer a Companhia de Atores Invisíveis, pode acessar o nosso site: http://www.invisiveis.subtom.com.br/Quem quiser saber um pouquinho mais, é só clikar no nosso blog: www.invisiveis.subtom.com.br/blog
Também temos uma comunidade no orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=32494619 e um perfil, pra quem quiser entrar em contato: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=11999973758681732630
É isso. Muito obrigado e um abraço a todos!

PEÇA DOS FORMANDOS DA ESCOLA DE TEATRO LEONARDO ALVES:
"SANGUE NO PESCOÇO DO GATO"
DE: RAINER WERNER FASSBINDER
DIAS: 10, 17, 24 e 31 de Maio
HORÁRIO: 20:00
PREÇO: R$ 10,00 (Meia entrada para estudantes)
LOCAL: FUNDIÇÃO PROGRESSO (Rua dos Arcos 24 - Lapa)

sábado, 3 de maio de 2008

SUPER SENTAI SPIRITS

Criado em 2004 para celebrar os 30 anos das séries Super Sentai (Super Esquadrões com heróis que usam trajes coloridos e contém 5 integrantes ou mais na equipe), esse show passou a ser realizado de 2 em 2 anos no Japão, reunindo os maiores nomes da música japonesa para cantar os respectivos temas dos seriados.

Ao todo, já foram produzidas 32 séries em 34 anos (de 1975 - 2008). Em 2004, o primeiro show do Super Sentai Spirits reuniu 15 cantores para a execução de 34 músicas. O mesmo feito se repetiu em 2006, com algumas mudanças no repertório, a saída de alguns cantores e a entrada de alguns novos. E agora em 2008, como é que vai ser? O show é realizado sempre no mês de novembro, e é lançado em dvd no ano seguinte a sua realização.
Para tentar especular, vamos passar a um detalhado review dos dois shows e fazer possíveis especulações de temas e participações que ainda não ocorreram e poderão ocorrer.


Em 2004, o show foi aberto com Isao Sasaki e Mitsuko Horie, cantando a abertura do primeiro sentai, "Himitsu Sentai Goragner" (1975). Em seguida, Sasaki permaneceu no palco e executou a abertura de "Jacker Dengekitai"(1977), a 2° série sentai. Depois da performance, Sasaki se retira e só vai voltar no final do show, dando lugar a MOJO, para que este execute a abertura e o encerramento de "Battle Fever J" (1979). Após essas performances em que a platéia já está aquecida, o host do show, Shocker Ono, chama ao palco Akira Kushida para cantar a abertura e o encerramento de "TaiyoSun Vulcan" (1981). A série "Denshi Sentai Denziman" não teve canções executadas por causa da ausência do seu cantor, Ken Narita. Depois de Kushida (que só voltará próximo ao fim do show), MOJO volta para cantar as aberturas de "Dai Sentai Goggle V" (1982, exibida no Brasil como "Gigantes Guerreiros Goggle V") e "Kagaku Sentai Dynaman" (1983). MOJO então encerra sua participação, tendo cantado os temas das séries que gravou. Takayuki Miyauchi é anunciado para cantar a abertura e o encerramento da série "Choudenshi Bioman" (1984), tendo essa sido sua única contribuição no show. É a vez de Hironobu Kageyama chegar e cantar "Dengeki Sentai Changeman" (1985, no Brasil exibido como "Esquadrão Relâmpago Changeman"). Após cantar o tema de abertura, ele se retira, pois vai voltar mais a frente, e dá lugar para o estreante Taku Kitahara, que nunca tinha participado de um show de trilhas sonoras de seriados e animes. Kitahara estreou cantando seus dois hits desse universo, a abertura e o encerramento do sentai "Choushinsei Flashman" (1986, no Brasil exibido como "Comando Estelar Flashman"). A platéia, extasiada, queria mais! E teve mais de Hironobu Kageyama, que voltou para cantar a abertura de "Hikari Sentai Maskman" (1987, no Brasil exibido como "Defensores da Luz Maskman"). Kageyama sai outra vez, mas não em definitivo, e Shocker Ono chama os outros cantores para um rápido bate papo descontraído com a platéia, encerrando assim o primeiro ato deste belo show.
Na seqüência, Shocker volta e chama Kenta Satou para cantar a abertura e o encerramento de "Kousoku Sentai Turbo Ranger" (1989). Vale ressaltar que Kenta interpretou o protagonista dessa série, o Red Turbo, e que as trilhas da série anterior, "Choujuu Sentai Liveman" foram puladas, pois Daizuke Shima, o seu cantor, não estava no show. Hora de Hironobu Kageyama voltar e encerrar sua brilhante participação com a abertura e o encerramento da série "Choujin Sentai Jetman" (1991). A série de 1990, "Chikyu Sentai Fiveman", teve suas trilhas puladas por Kenji Suzuki não estar presente no show. Depois que Kageyama sai, Kenta Satou volta para cantar a abertura de "Kyoryu Sentai Zyuranger" (1992), o primeiro sentai a ser americanizado pela empresa Saban, dando origem ao clichê americado "Mighting Morphin Power Rangers". Depois de Kenta, é a vez de New Jack Takouru chegar arrasando com os temas de abertura e encerramento da série "Gosei Sentai Dairanger" (1993), que deu origem a segunda temporada de Power Rangers nos EUA. Depois de New Jack, temos um pulo no tempo e vamos de 1993 para 1999. Os cantores das séries "Ninja Sentai Kakuranger" (1994 - Originário da terceira tempora de Power Rangers), "Chouriki Sentai Oh Ranger" (1996 - originário de Power Rangers Zeo")"Gekisou Sentai Carranger" (1996 - Originário de "Power Rangers Turbo"), "Denji Sentai Megaranger" (1997 - Originários de "Power Rangers no Espaço"), "Seiju Sentai Gingaman" (1998 - Originário de "Power Rangers na Galáxia Perdida") não foram chamados para participar do show. E a música que entrou depois de Dairanger foi a abertura de "Kyu Kyu Sentai Go Go V" (1999 - Originário de "Power Rangers - O Resgate") cantada por Shinichi Ishihara. Em seguida, também pela primeira vez participando de um show desse estilo, a afro-japonesa Kumi Sasaki, dona de um possante vozeirão, entra para cantar a abertura de "Jikku Mirai Sentai Timeranger" (2000 - Originário de "Power Rangers Força do Tempo"). Em seguida, chegou a vez de Yukio Yamagata, também conhecido como "Gao The Beast" (Gao A Besta). Yukio chegou trajando uma roupa num estilo único e peculiar, como se fosse um tipo de índio primata, fazendo uma alusão bem forte a canção que executaria, no caso, a abertura da série "Hyakujuy Sentai Gaoranger" (2001 - Originário de "Power Rangers Força Animal). Uma apresentação fantástica, seguida da linda e emocionante Salia, que entrou logo em seguida para cantar o encerramento da mesma série. Para finalizar esse bloco, assim que Salia saiu do palco, um som de vento anunciava o próximo tema. Era Hideki Takatori chegando para cantar a abertura de "Nippu Sentai Hurricanger" (2002 - Originário de "Power Rangers Tempestade Ninja"). No fim do bloco, Shocker Ono chamou os cantores que haviam se apresentado (a exceção de Kageyama) para mais um rápido bate papo com a platéia.

Em seguida, foi dado início ao 3° e último bloco. Massaki Endo faz uma entrada triunfal, empolgando todos com seu estilo peculiar de cantar e com sua já conhecida performance na abertura de "Bakkuryu Sentai Abaranger" (2003 - Originário de "Power Rangers Dino Trovão"). Em seguida, Akira Kushida entra para cantar o encerramento da série e finalizar sua participação no show. Mas ainda faltava uma série, o novo sentai do ano (no caso, 2004), "Tokusou Sentai Dekaranger" (que originou a série "Power Rangers Super Patrulha Delta). Usando o uniforme dos policiais integrantes da equipe, a dupla Psychic Lover chegou ao som de sirenes e riffs de guitarra para executar a empolgante abertura da série. E para encerrar, Isao Sasaki volta em grande estilo para cantar o encerramento da série. Pra quem achou que esse seria o fim desse fantástico show, uma surpresa ainda maior foi reservada para o fim. Todos os cantores participantes do show se reuniram no palco e juntos cantaram o encerramento de "Himitsu Sentai Goranger", o primeiro Sentai, fechando a noite com chave de ouro e colocando esse show para a história dos shows de trilhas sonoras de seriados e animes japoneses, homenageando com justiça o gênero Super Sentai, que se tornou famoso no mundo inteiro.

Devido a todo esse sucesso, foi determinado que o show seria realizado de dois em dois anos. Em 2006, o show teve sua segunda edição, com participação de outros cantores e com temas de outras séries, como o Sentai "Chikyu Sentai Fiveman" (1990) com abertura e encerramento executadas por Kenji Suzuki, o sentai "Mahou Sentai Magiranger" (2005 - Originário de "Power Rangers Força Mística"), que teve sua abertura executada por Takafumi Ikawasaki e encerramento pelo grupo feminino Sister MAYO; e o Sentai daquele ano (2006), "Gou Gou Sentai Boukenger" (Originário de "Power Rangers Operação Ultra Veloz"), que abriu o show com a música de abertura cantada pelo famoso Nobuo Yamada (que também canta músicas de Cavaleiros do Zodíaco) e o encerramento pela dupla Psychic Lover. Alterações também aconteceram. Shinichi Ishihara, Kumi Sasaki e Salia, que estiveram presentes em 2004, não participaram desse show de 2006. Alguns cantores tiveram o tempo de participação reduzido, como Taku Kitahara, Kenta Satou e New Jack Takouru, que cantaram apenas as aberturas das séries que gravaram. Yukio Yamagata, Hideki Takatori, Massaki Endo e Takayuki Miyauchi continuaram com suas respectivas músicas do show anterior. Alguns cantores como Isao Sasaki, MOJO, Akira Kushida e Hironobu Kageyama continuaram com o mesmo número de músicas, mas trocaram algumas; Isao cantou o encerramento de Jacker no lugar do encerramento de Dekaranger, MOJO cantou o encerramento de Dynaman no lugar do de Battle Fever, Kushida cantou o 2° encerramento de Sun Vulcan no lugar do primeiro e Kageyama cantou o encerramento de Changeman no lugar do de Jetman. As outras músicas do repertório dos 4 foram iguais as de 2004. Outra coisa interessante foi a inserção de temas de meio de série. Mitsuko Horie cantou 2, uma de Boukenger (a chatinha "Bouken Punch") e uma de Gaoranger ("White Light ~ Gaowhite). E Hironobu Kageyama surpreendeu ao cantar a música "Aura Ni Kagayake! Great Five" (Tema do robô de Maskman). Uma outra mudança, curiosa e interessante por sinal, é que dessa vez, o show começou de trás pra frente, ou seja, abriu com o tema da série atual e fechou com o da primeira. E o encerramento do show foi igual ao de 2004, todos juntos cantando o encerramento de Goranger (o que parece ter virado tradição e provavelmente se repetirá nos shows do gênero). Há quem diga que essa edição foi superior a primeira. E realmente, as mudanças foram bem agradáveis diga-se de passagem!


Mas e agora? Estamos em 2008 e em Novembro teremos mais uma edição? Será que vai ter gente nova? Ken Narita vai dar as caras para cantar Denziman? É bem provavel que sim, visto que ele voltou a fazer alguns shows pelo Japão e em 2007 participou do Super Hero Spirits cantando esses temas. É bem provável termos estreantes, tais como Hideyuki Takahashi, que canta o tema do Sentai desse ano de 2008,"Engine Sentai Go-Onger" e da banda Project-R, que acompanha a Sister MAYO no encerramento. Também é provável a participação de Takayoshi Tanimoto, cantor da abertura de "Jyukken Sentai Gekiranger"(2007 - Originário de "Power Rangers Fúria da Selva") e da tão esperada estréia de Ichiro Mizuki, o famoso Aniki, nesse show! Mizuki já cantou de tudo quanto é abertura e encerramento de seriados e animes no Japão, não é atoa que o cara é o Rei, tendo gravado mais de 1000 músicas ao longo dos seus 40 anos de carreira. Mas ele nunca havia gravado uma abertura ou encerramento de Sentai. E em 2007, o encerramento de Gekiranger foi a sua estréia. Alguns fãs gostariam de ouvir outros temas de meio de série, e também que outros cantores pudessem participar desse show.

Pra quem gosta de trabalhar com especulações na base da lógica, é só fazer um comparativo de 2004 pra 2006. É só observar o que funcionou, o que é clássico e que não pode ser alterado, o que pode ser trocado ou substituído, o que aparentou ter feito mais sucesso, o que poderá entrar e o que poderá sair com base em tudo que já rolou, e claro, fazer as apostas! Aguardaremos todos ansiosos para mais uma edição desse show, que logo logo vai estar pintando por aqui em dvd, que infelizmente por vias piratas, afinal, ninguém está com o bolso cheio pra importar o dvd original do Japão, apesar de algumas pessoas fazerem isso, é mais fácil encontrar o show pra baixar no orkut, nos foruns, emules e Youtubes e até comprar em eventos do gênero. Bom, nada é perfeito, esse é o preço do mundo capitalista; e dessa parte da cultura japonesa ainda não ter alcançado um índice de popularidade na mídia, apesar de seu grande sucesso reunindo de 20 a 40 mil pessoas em shows dos cantores todo ano em São Paulo desde 2003 e que felizmente, vem se expandindo pelos outros Estados como Rio, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Ceará. Mas isso é outro assunto e que vai ser debatido aqui no blog.

Vida longa aos Heróis Japoneses, aos Super Sentais e seus cantores! Uma boa música sempre dispensa o idioma em que foi composta! Esses artistas merecem aplausos!

TRONO MANCHADO DE SANGUE: MACBETH EM VERSÃO SAMURAI

Falar de Shakespeare é uma coisa sempre muito boa, mas ao mesmo tempo desafiante. E falar de suas obras adaptadas para cinema é um desafio ainda maior! Dos autores literários, Shakespeare provavelmente é o que teve mais versões de suas obras adaptadas na sétima arte em todo o mundo. Não dá pra precisar ao certo quantas adaptações já foram (e ainda são) feitas. O fato é que, a cada adaptação, as leituras e interpretações das obras aparecem de maneira diferente, seja pela visão do diretor (ou produtor) do filme, ou pela visão do expectador.

Farei uma abordagem específica sobre uma adaptação de “Macbeth”, que vem a ser o filme “Trono Manchado de Sangue", do maior gênio do cinema asiático, Akira Kurosawa. Adaptar uma obra literária pra cinema é uma coisa, mas adaptar uma obra para outra realidade histórica e cultural, conservando os elementos basicos da sua estrutura, é outra completamente diferente. No decorrer do texto, farei pontuações mostrando como o gênio Kurosawa conseguiu transportar e adaptar para a cultura oriental, pensamentos e questões criadas por um autor ocidental.

Primeiro de tudo, é preciso contextualizar a obra original de Shakespeare, e o período em que ela fora escrita. “Macbeth” foi escrita entre 1603 e 1606. Era conhecida como a “Peça Macabra”, ou “Peça Escocesa” como os atores a chamavam. É a tragédia mais curta de Shakespeare. O enredo aborda sentimentos humanos como traição, ambição, cobiça pelo Poder, sedução e principalmente o poder da persuação. Aliado a isso, Shakespeare abordou uma série de conspirações políticas em torno da unificação de reinos da Inglaterra e Escócia. E pra finalizar, a abordagem da existência de bruxas, fato que assolava as pessoas daquele período, desde a Realeza até os mais humildes do povo, e o Rei Jaime I (Rei da Inglaterra daquele período) tinha fobia de bruxas e havia instalado no período de seu reinado uma verdadeira caça às bruxas. No fim, “Macbeth” pode ser vista historicamente como uma propaganda política daquela época, mesmo que de uma maneira subliminar, e claro, muito sutil. Para todos os membros da Côrte, Ministros, Súditos e todos que tivessem alguma relação próxima do Rei, e que assistissem a encenação, poderia servir como “carapuça” para qualquer idéia conspirativa de usurpar o trono, justificando o uso das bruxas, aquelas emissárias do diabo, que sabiam perfeitamente conjurar os malignos poderes luciferinos para induzir quem quer que fosse contra o governo legítimo. Pra finalizar, Shakespeare também escreveu a obra baseado nos relatos históricos sobre o Rei Macbeth da Escócia, feitos por Raphael Holinshed e pelo filósofo escocês Hector Boece.

Dada essa prévia introdução sobre o contexto histórico, surge a questão: como Akira Kurosawa transportou isso pra Cultura Japonesa? Vamos responder por partes. A primeira coisa que Kurosawa fez foi manter o período da obra, ou seja, final do século XVI, início do XVII. O que acontecia no Japão durante esse período? 1603 foi o ano de instauração do Reinado de Tokugawa. O país já vinha desfragmentado desde o periodo feudal, e havia uma necessidade de unificação. Para isso, muitas batalhas foram travadas durante esse período, batalhas entre Senhores de Castelos, na tentativa de estabelecer domínios e um único governo. Explicar o sistema político desse período ia requerer um artigo específico, pois há uma série de questões históricas que envolvem a História do Japão. Como a proposta aqui não é essa, deixo o link pra vocês conferirem os detalhes básicos dessa época: http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_Edo

Bom, Kurosawa já acertou com esse elemento. Uma batalha de unificação de um reino no mesmo período em que a obra original de Shakespeare foi escrita e um contexto histórico semelhante ao orignal. O filme começa com um mensageiro trazendo notícias sobre a Revolta de Fujimaki, Senhor da Mansão do Norte e traidor do Castelo das Teias das Aranhas. Este Castelo estava em guerra com outro, liderador por um homem chamado Inui, que pretendia derrubá-los, e Fujimaki se rebelou para apoiá-lo. Um mensageiro traz a notícia de que o Capitão Washizu (Macbeth) conseguiu conter os avanços das tropas de Inui no Forte I e que o Capitão Miki (Banquo) defendeu o Forte II, e que estariam naquele momento, retornando ao Castelo. Ao mesmo tempo, o traidor Fujimaki fora encurralado e se rendeu. O Lord Tsuzuki (Rei Duncan) deu ordens para sua execução. Aqui ja podemos estebelecer a primeira comparação. Na obra original, um mensageiro leva a notícia para o Rei Duncan que Macbeth contera as tropas inimigas de seu território e o traidor, o Senhor de Cawdor, havia se rendido, e Duncan o condenara a morte.

Ao voltar da batalha, Washizu e Miki aparentemente se perdem no Bosque das Teias das Aranhas. A cena é extensa, mostrando o quanto eles cavalgaram debaixo de chuva até encontrar uma misteriosa mulher cantando em uma cabana. A impressão que dá ao expectador é que eles estavam sendo atraídos de alguma forma, durante todo o momento em que estavam perdidos no bosque, para que assim, encontrassem a mulher. Essa mulher é a Bruxa, porém, no Japão, a crença de bruxarias não era como na Europa, sendo assim, a mulher fora taxada de “espírito malígno”. Na obra original, eram três bruxas, e aqui, foi apenas uma. O arquétipo foi caracterizado por uma mulher velha, de vestimenta preta e com a voz completamente distorcida por efeitos sonoros, o que realça o ar macabro de um suposto espírito malígno. Um ponto interessante de observar é que, no momento em que ela é descoberta por Washizu e Miki, ela fica um longo tempo cantando e proferindo palavras que aparentemente não fazem nenhum sentido, mas se analisarmos bem, ela estava profetizando. Eis que Washizu a interrompe e a questiona. Ela diz saber quem ele é e o que ele esconde no fundo do coração. Ela diz que ele conseguirá o que deseja; que primeiro, será nomeado Senhor da Mansão do Norte, e logo em seguida, será o Senhor do Castelo das Teias de Aranha. Com certeza essa é a maior ambição de Washizu, mas ele demonstrou não acreditar em tais palavras. Miki resolve questionar se não havia alguma profecia pra ele. A bruxa então diz que ele se tornaria Comandante do Forte I, mas que não chegaria a ser Senhor como Washizu, mas que seu filho seria Senhor quando o reinado de Washizu chegasse ao fim. Após a profecia, ela desaparece, deixando os dois assustados com as revelações, principalmente Washizu. Eis que eles resolvem retomar a viagem de volta ao Castelo. Comparando novamente, aqui vemos praticamente a mesma coisa. Macbeth e Banquo voltando da batalha, encontram as bruxas no meio do caminho. Elas dizem que Macbeth se tornaria Senhor de Cawdor e posteriormente se tornaria Rei. E que Banquo não chegaria a ser Rei, mas seria Pai daqueles que serão Reis. Da mesma forma que apareceram, sumiram. E as sensações de Macbeth e Washizu são idênticas.

Ao chegarem no Castelo, a profecia da bruxa se concretiza. O Lord Tsuzuki nomeia Washizu como Senhor da Mansão do Norte, depois de ter executado Fujimaki; e Miki como Comandante do Forte I. Vale ressaltar os detalhes minuciosos em imagens que Kurosawa utiliza para mostrar as honrarias feitas a guerreiros samurais vitoriosos que voltam de uma batalha. Todos esses elementos culturais estão presentes no filme, e mesmo que na ausência de diálogos (o que acontece em muitas cenas do filme), a imagem acaba falando por si só, quando esta também está presente no desenvolvimento da trama. Esse artifício é muito utilizado por Kurosawa durante todo o filme. Os diálogos do texto original foram alterados para aquela realidade, e uma boa parte desses diálogos foi cortada. Importantes acontecimentos para o desenvolvimento do enredo não são descritos, no sentido em que não se mostram imagens acerca da sua ocorrência; é apenas relatado na terceira pessoa o seu resultado e o seu progresso. Essa técnica tem especialmente duas virtudes: é económica, não mostrando (sob a forma de imagem) nada além do estritamente necessário, tendo um poder sugestivo que envolve o seu uso, deixando as imagens ou a imaginação do acontecimento para o expectador, supostamente envolvendo-o mais diretamente no filme.

Dada essa explicação sobre a técnica que Kurosawa utiliza no filme, após o retorno de Washizu e Miki, a próxima cena já se dá na Mansão do Norte, onde Washizu já tomou posse como seu Senhor. É quando somos apresentados a Lady Asaji (Lady Macbeth), esposa de Washizu. O cenário da Mansão é o mais realista possível com a época, algo que se assemelha a um pequeno vilarejo, sendo a casa principal o local onde mora o Senhor da Mansão e sua família. Lady Asaji aparece trajando o figurino tradicional de esposa, e seu comportamento diante de seu marido é o mais respeitoso e submisso, diante da posição em que a mulher japonesa tinha dentro daquela sociedade. Porém, aparência é uma coisa e realidade é outra. O que mostramos para as pessoas verem é uma visão. O que mostramos a nós mesmos ou aos mais íntimos, fica a critério de cada um. Assim era Lady Asaji, uma mulher que em tons persuassivos, cutucava seu marido até o fundo da alma, instigando-o a dar vazão a suas ambições. Lady Asaji diz que Washizu deve acreditar na profecia da bruxa e fazê-la acontecer logo, pois ela temia que Miki fosse traí-lo por saber da profecia e dessa forma, sua ambição e sonhos seriam destruídos, e ele cairía em desgraça. Washizu nega de todas as formas possíveis de que não fará nada contra o Senhor do Castelo e que não pretende agir de modo escuso para conquistar sua ambição. Mas ainda assim, Lady Asaji o instiga de maneira bastante persuassiva, demonstrando a preocupação da esposa fiel e digna que ama o marido e o incentiva para ser feliz e alcançar os seus sonhos, e para que ele não perca sua honra e caia na desgraça. Toques sutis de interpretação na atuação da excelente atriz Izuzu Yamada. Comparando com Macbeth, sabemos que Lady Macbeth persuade o marido da mesma forma, porém, usando um pouco mais a questão da sensualidade e das questões sentimentais e amorosas, mais abertas e mais explícitas na cultura ocidental do que na oriental.

Após dizer a Washizu o que ele deveria fazer e ele recusar, eles ficam sabendo que Lord Tsuzuki estava se dirigindo para a Mansão do Norte com vários homens. Washizu teme pelo que Asaji havia lhe dito, mas ainda assim, faz todos os preparativos para receber o seu Senhor, que viaja incógnito para não ser atacado pelas tropas de Inui. Ao chegar na Mansão do Norte, Lord Tsuzuki diz que pretende lançar um ataque a Inui, e que Washizu comandará esse ataque, enquanto Miki permanecerá no Castelo das Teias das Aranhas para defendê-lo, e que ele próprio ficaria escondido na Mansão do Norte. Washizu acata as ordens de seu Senhor e ainda diz a Asaji que não vai fazer nada, pois sentiu a confiança e a honra que o Senhor depositou nele. Asaji então diz que ele está equivocado, instigando-o com o sentimento da inveja, dizendo que Lord Tsuzuki o ordenou o Comando do Ataque para que ele fosse destruído, e que seu preferido era Miki. E que estando Lord Tsuzuki na Mansão, seria mais fácil tirá-lo do caminho, armando uma cilada para matá-lo e jogar a culpa em outros, e dessa forma, ascender ao trono mais rápido do que a profecia da bruxa previu. Washizu relutou muito e era nítido o conflito entre o que ele sentia, no caso, a vontade de fazer a sua ambição acontecer, e o que ele achava que era certo, seus conceitos de honra e dignidade. Mas por fraqueza, ele acaba por ceder a tentação e segue os planos de Lady Asaji. Lord Tsuzuki estaria dormindo no quarto pertencente ao traidor Fujimaki, e estaria com dois guardas em sua porta. Lady Asaji ofereceria vinho com um sonífero para esses guardas e eles caíriam no sono, dando então a oportunidade para Washizu entrar no quarto e assassinar o seu Senhor. E assim acontece.

Ao sair do quarto com a lança suja com o sangue de Tsuzuki, Washizu não consegue crer que cometeu aquele ato; então Asaji termina o serviço, colocando a lança em poder dos guardas, para dar a impressão de que foram eles que mataram. Vale ressaltar aqui que o assassinato não é mostrado e que há a ausência dos diálogos originais, mas que a transgressão da cena ocorre exatamente de acordo com o enredo original, inclusive o fato de Asaji sujar suas mãos com o sangue impregnado na lança e nas mãos de Washizu. Em seguida, eles limpam as mãos e eliminam os vestígios e anunciam a morte do Senhor. Washizu elimina os guardas, numa demonstração de fúria pelo ato que eles supostamente cometaram.

Conforme já dito anteriormente, a ausência dessas imagens e diálogos não alteram o conteúdo da obra e sua originalidade, e também não faz o expectador mergulhar no filme, mas também não deixa que ele se afogue. A ausência de imagens acerca de um acontecimento específico, mesmo tendo apenas uma descrição não presencial, empurra a audiência a elaborar, por meio da imaginação, as imagens (e até os diálogos, para que tem familiaridade com a obra original) que compõem o acontecimento específico. Aparenta tratar de um trabalho criativo, quase artístico, por parte daqueles que assistem o filme, e rola aquela sensação de “o que vai acontecer agora?”

Voltando a comparações, Macbeth se debate nos próprios pensamentos e hesitações sobre matar Duncan e as conseqüências desse ato, enquanto sua esposa prepara tudo. A arma do crime é um punhal, enquanto que na versão de Kurosawa, a arma é uma lança pontiaguda de Samurais. Depois de consumar o fato, cai no pânico e no arrependimento. Porém, não anuncia logo que o Rei está morto. Eles se recolhem e pela manhã, Macduff encontra o cadáver. Macbeth então elimina os guardas, alegando a ira pelo ato cometido pelos dois, e sem deixar vestígios de sua culpa, as suspeitas passam a cair em cima dos filhos de Duncan, Malcom e Donalbain, que resolvem fugir para não serem perseguidos por Macbeth.

Tendo todos os vestígios limpos sobre sua culpa, era necessário achar um mandante para o crime, e logo Washizu e Asaji precisavam de um suspeito que pudesse ser o culpado, e logo jogaram a culpa pra cima de Noriyatsu, filho de Tsuzuki, que fica apavorado com a morte de seu pai, e junto com o Mestre Kunimaru, foge da perseguição de Washizu. O Mestre Kunimaru incentiva Noriyatsu a fugir e acredita que Washizu tenha sido responsável pela morte de seu Senhor, pois sabia da total lealdade dos guardas. Neste caso, a personagem do Mestre Kunimaru aparentemente representa o personagem Macduff, que na obra original também não engoliu a história de Macbeth e ajudou Malcom a fugir e se refugiar. Noriyatsu seria a figura represente de Malcom, porém, mais a frente, o expectador que tem familiaridade com a obra original poderá ficar confuso em relação a isso, a que personagens esses da obra de Kurosawa estão representando. Mas por hora, é válido ressaltar a perseguição de Washizu aos dois, a propagação da culpa deles a ponto de Miki não abrir os portões do Castelo para eles e nenhuma atitude de Washizu na frente de Miki que pudesse sinalizar sua culpa.

Novamente Lady Asaji entra em ação e diz a Washizu que Miki só abrirá os portões do Castelo se ele levar o ataúde do Senhor. E assim Washizu faz, com todas as honras funerárias que um Samurai Senhor de Castelo merecia. Ao adentrar no Castelo, fica-se sabendo que a viúva do Senhor havia se suicidado, temendo a invasão inimiga de Inui, ela optou em tirar a própria vida ao correr o risco de ver o Castelo tomado pelo inimigo. Observamos detalhes próprios e únicos da cultura japonesa, como o funeral do Senhor, as mulheres em volta chorando e toda a honraria do Castelo em volta da situação. Aspectos ausentes da obra original devido a diferença das culturas, inseridas aqui nesse universo com maestria e genialidade por um exímio conhecedor. Miki diz a Washizu que ele é o mais bem preparado para assumir o Castelo, e que assim faria cumprir a profecia da bruxa. Dessa forma, Washizu foi nomeado o novo Senhor do Castelo das Teias das Aranhas. Numa conversa com Asaji, Washizu diz que a profecia se cumpriu para ele, mas que também teria que se cumprir para Miki. E ele decide então nomear o filho de Miki, Yoshiteru (Fleâncio) como seu sucessor. Asaji se opõe fortemente a isso e diz a Washizu que está grávida, e que eles terão o próprio herdeiro. E ainda diz que mais do que nunca, é preciso se livrar de Miki e seu filho, se Washizu não quisesse que seu trono fosse ameaçado. Novamente, a persuação e toda a maldade de Asaji foi jogada no coração de Washizu, que cedia mais e mais, principalmente porque no fundo de sua alma, essas eram suas ambições e seus reais desejos. Yoshiteru, filho de Miki, aparece aqui como um jovem adulto, totalmente a par dos fatos e muito conivente com seu pai. Mas ele diz a Miki que não sente que as coisas devam ser dessa maneira e que ele não quer ser herdeiro de Washizu. Miki diz que ele deveria se sentir honrado e que eles deverão atender a cerimônia de celebração da ascenção de Washizu a Senhor do Castelo. Mal sabia ele que nesse meio tempo, Lady Asaji estava preparando seu assassinato. Miki fica impossibilitado de ir a cerimônia porque seu cavalo fica louco e ninguém consegue contê-lo. Estando em casa com seu filho e os criados, todos acabam mortos, exceto Yoshiteru, que consegue fugir.

É preciso chamar atenção novamente para o uso da imagem e na não exposição dos fatos citados. Lady Asaji planeja o assassinato de Miki, mas a cena não aparece em momento algum. A única coisa que vemos é o mal presságio sentido por Yoshiteru e que Miki não pôde estar presente na cerimônia. Enquanto a cerimônia acontece com um banquete, o lugar de Miki é guardado, e tudo transcorre naturalmente, como se tivesse acontecido algum imprevisto com ele para que não pudesse estar presente ou justificasse o seu atraso, eliminando então qualquer suspeita para Washizu. Durante a cerimônia, Washizu começa a ter visões de Miki, já sendo assombrado pelo seu complexo de culpa. Lady Asaji tenta contê-lo, dispensa os convidados e ainda assim, Washizu continua apavorado, assustado por aquelas visões. E um mensageiro chega trazendo a cabeça de Miki e dando a notícia de que todos foram mortos e o local destruído, mas que Yoshiteru conseguiu fugir. Washizu fica mais desesperado e elimina o assassino de Miki.

De volta a obra de Shakespeare, é possível observar as adaptações que Kurosawa fez. Primeiramente, ele colocou o filho de Miki como um adulto, sendo que Fleâncio, filho de Banquo, ainda é uma criança. Macbeth, depois de coroado, dá um banquete em comemoração a sua ascenção ao trono. Banquo resolve viajar com Fleâncio e Macbeth, persuadido por sua esposa, resolve contratar assassinos para se livrar dos dois. Banquo acaba morto, mas Fleâncio consegue escapar. Também vemos na obra de Shakespeare, que Macbeth, temendo Macduff, ordena a execução de toda a sua família e a destruição de seu castelo. Na adaptação de Kurosawa, isso aconteceu com Miki, já que o Mestre Kunimaru, que aparentemente representa o personagem Macduff, não possui nenhum tipo de citação de posses ou até mesmo família. E Macbeth, durante o banquete, tem visões do espírito de Banquo, sereno, olhando pra ele e isso o atormenta de forma descontrolada. A mesma coisa acontece, Lady Macbeth manda que os convidados se retirem e tenta acalmar o marido, quando os assassinos chegam dizendo que eliminaram Banquo, mas não conseguiram pegar Fleâncio. Macbeth elimina os assassinos e continua dando seqüência ao seu reino, que acaba se tornando um reino de terror.

Voltando ao filme, e novamente ao recurso das imagens, chegamos diretamente a uma cena onde guardas e moradores do Castelo das Teias das Aranhas conversam entre si e comentam sobre as mudanças instauradas por Washizu, e que o Castelo estaria então amaldiçoado. Contam também que Yoshiteru foi acolhido por Noriyatsu e pelo Mestre Kunimaru, e que os três se aliaram com Inui para derrubar Washizu. A partir daqui, podemos traçar mais paralelos. Fleâncio era uma criança, mas no filme de Kurosawa, Yoshiteru já é um jovem adulto. Por isso, o expectador que conhece a obra pode se questionar se esse personagem corresponde a Fleâncio ou a Malcom, ou simplesmente ignorar o fato como uma livre adaptação de Kurosawa sem uma correspondência propriamente dita. Da mesma forma que é possível se questionar se Noriyatsu seria Macduff, por tomar a frente da batalha e liderar uma tropa rebelde contra Washizu. Parando para analisar a aliança dos três personagens na obra de Kurosawa e olhando pra obra original de Shakespeare, isso segue um padrão lógico. Da mesma forma que é lógico deduzir que Inui é o Velho Siward, (General do exército inglês) , mesmo que ele não apareça no filme. E os “peixes pequenos” como Ross e Lennox aparecem superficialmente como criados da mansão discutindo entre si sobre o que está acontecendo. Achei interessante ficar no ar essa sensação durante o filme, pois mostra bem claro que uma livre adaptação nem sempre destrói a originalidade de uma obra.

A apreensão e o medo tomam conta de Washizu, principalmente ao saber que seu filho nasceu morto, que já estava morto no ventre de Asaji antes mesmo de nascer. Depois desse fato, Asaji enlouquece, entrando em total desespero, tentando lavar as mãos de sangue, proferindo palavras que assumem a culpa do assassinato do Senhor e de Miki. Washizu não sabe o que fazer com ela e decide sair em busca da bruxa, deixando a esposa sob os cuidados das criadas. Ao chegar no Bosque, Washizu questiona a bruxa, que diz a ele que seu reinado permanecerá inabável, e que ele só perderia quando o Bosque das Teias das Aranhas se movesse em direção ao Castelo. Washizu debocha dessa profecia, e totalmente transtornado e enlouquecido pela sua sede de poder, jura banhar o reino com o sangue de todos que se opuserem a ele, e não leva a sério o que a bruxa lhe diz, pois acha que será impossível acontecer. Ao retornar para o Castelo, ele fica sabendo que as tropas de Inui e Noriyatsu estarão a caminho para o confronto, mas diz não temer nada. Uma invasão de corvos acontece no Castelo e os soldados interpretam como um mau agouro. Washizu resolve então revelar as profecias, tanto a de que ele seria o Senhor, quanto a de que ele só seria derrotado se o Bosque se movesse em direção ao Castelo. E dessa forma, eke persuade os soldados e a lhe jurarem lealdade.


Vamos comparar com a obra original de novo. Lady Macbeth nunca esteve grávida, mas surta da mesma forma que Asaji. Macbeth também fica apavorado ao ver a loucura e a doença de sua esposa e sai a procura das bruxas. Ao encontrá-las, ouve delas que ele não seria derrotado, ao menos que a Floresta de Birnam se movesse na direção do Castelo. E que ele seria morto por um homem que não nasceu do ventre de uma mulher. Essa última profecia não fora feita a Washizu no filme, mesmo porque, o seu desfecho é um pouco diferente da obra original. Sabemos que Macbeth luta contra Macduff, que afirma ter nascido prematuramente, ou seja, não saiu do ventre de uma mulher. E Macbeth então é vencido e morto em combate, perdendo o trono para Malcom, herdeiro legítimo de Duncan. Com Washizu as coisas acontecem um pouco diferente.


No filme, não vemos o suicídio de Lady Asaji. Novamente o recurso da ausência de imagem e as informações soltas levam o expectador a deduzir o que possa ter acontecido, enquanto na obra original, o suicídio de Lady Macbeth é explícito. O fato de Washizu ter revelado a profecia para seus súditos acabou se voltando contra ele. Para conseguir um avanço mais seguro e uma proteção mais firme, as tropas de Inui, com apoio de Noriyatsu, usaram árvores e arbustos do Bosque para se proteger e fazer o avanço em direção ao Castelo, e eles estavam em grande número; ou seja, o Bosque se moveu e rumou na direção do Castelo. Washizu se apavorou, pois viu a profecia se cumprindo e temeu por sua derrota. Mas sua loucura já era tanta, que ele não desistiu por um momento sequer e insistiu em lutar e se proclamar vitorioso. Seus homens desertaram e baseado nas profecias que Washizu contara anteriormente e nos boatos dissiminados a respeito da morte de Lord Tsuzuki, e a doença que fazia Lady Asaji proclamar a verdade, todos deduziram que Washizu foi o grande traidor. E eis que ele acaba encurralado pelos próprios soldados, que numa revolta pela traição e pela desonra que Washizu cometera, resolvem matá-lo eles mesmos. E assim acontece. Encurralado e sem ter como fugir, Washizu é morto e flechadas pelos seus próprios homens.

Ele levou várias flechadas, resistiu bem durante um bom tempo, até que uma flecha atravessou seu pescoço, fazendo-o cair pelas escadas e dar o seu último suspiro diante de todos. Essa mudança em relação a obra original se deve a mais uma tradição cultural. Os Samurais tinham por princípio a honra acima de muita coisa. E Washizu desonrou todas as tradições, ascendeu ao trono com o assassinato do Senhor do Castelo fora de uma batalha por sua vida, ou seja, por traição. E ainda por cima, mentiu e enganou a todos. Não teria como ele ter outro fim senão o que teve. Vale ressaltar que as tropas de Inui e Noriyatsu estavam nas portas do Castelo, e quando elas começam a entrar, o filme acaba, ficando no ar aquela sensação de “o que aconteceu depois?”. Realmente, o que aconteceu depois? Noriyatsu assumiu o trono? As províncias se unificaram fazendo do Japão um único reino, conforme na História? São perguntas naturais que surgem e ficam a margem do expectador para interpretar e tentar decifrar.

E assim é “Trono Manchado de Sangue”, uma belíssima obra de arte do cinema e com certeza uma louvável adaptação de Shakespeare na sétima arte, e esse feito seria repetido por Akira Kurosawa quase 30 anos depois, com a adaptação de "Rei Lear" para o filme R.A.N.
Muitas cenas do filme, em particular as iniciais, são descritas de tal forma pelos mensageiros, e o público é impelido a construir na sua imaginação as imagens relativas aos fatos. Os mensageiros relatam o evento de modo a iludir o público, levando-o a crer que está a fazer um exercício livre e genuinamente criativo. No entanto, as mensagens sucessivas que vão sendo apresentadas contêm já orientações específicas para a construção das imagens. O público julga ter poder quando, na verdade, está submetido a ele. A última afirmação não é apenas figurativa: a técnica publicitária, como a técnica em uso no filme, que pode ser mais ou menos definida como sugestão, é uma imposição, uma manifestação de poder mascarada de criatividade ou liberdade. O aspecto mais curioso dessa manifestação de poder é gerar algo, a saber um processo imaginativo.

Sua importância é grandiosa em vários aspectos, principalmente no de conseguir transportar com genialidade e criatividade, elementos da cultura oriental dentro de uma obra totalmente focada na cultura ocidental. Serve como fonte histórica e artística. A caracterização dos cenários, os figurinos, a película preto e branca mantendo o clima sombrio da trama e a brilhante interpretação de Toshiro Mifune (ator favorito de Kurosawa, já consagrado em suas obras anteriores) e de Isuzu Yamada nos papéis protagonistas. É uma obra poderosa que merece figurar na prateleira de todos os Historiadores, Teatrólogos, Cineastas, Críticos, Atores, Diretores, e apreciadores de arte em geral, e tem uma combinação única: William Shakespeare e Akira Kurosawa

TRONO MANCHADO DE SANGUE (KUMONOSU-JÔ)
DE: AKIRA KUROSAWA
PRODUÇÃO: TOHO COMPANY (1957)

ELENCO:

TOSHIRO MIFUNE: CAPITÃO WASHIZU
ISUZU YAMADA: LADY ASAJI

AKIRA KUBO: CAPITÃO MIKI
TAKUMARU SASAKI: LORD TSUZUKI
TAKASHI SHIMURA: NORIYATSU
HIROSHI TASHIKAWA: MESTRE KUNIMARU

MINORU CHIAKI: YOSHITERU
CHIEKO NANIWA: BRUXA

DISPONÍVEL EM DVD!