quinta-feira, 17 de abril de 2008

WHITESNAKE VOLTA AO BRASIL EM MAIO!


Essa é uma notícia que merece ser aclamada! David Coverdale resolveu trazer seu Whitesnake de volta para terras tupiniquins, para divulgar o novo album de estúdio de sua banda, "Good to be bad". A última visita da "Cobra Branca" foi em Setembro de 2005, onde vieram junto com o Judas Priest, e participaram de shows no Rio e em São Paulo (inclusive, este que vos escreve, esteve presente no show do Rio).


O disco novo é interessante. Obviamente que não podemos esperar ouvir algo do nível de "Slide it in", "1987", "Love Hunter" ou "Come and get it", mas podemos dizer que esse disco soa como se fosse uma continuação do clássico idolatrado "1987". As baladas caracterísiticas de sempre, abordando relacionamentos, amor (quase todas as músicas do Whitesnake possuem a palavra "love" rsrsrs), bons vocais em falsete, letras sexualmente e sensualmente provocantes, com os roucos sussurros de Coverdale que costumam levar a mulherada ao delírio e um bom hard rock ao estilo fazem "Good to be bad" colocar o Whitesnake novamente na cena musical do Rock atual, o que é bom pra dar oportunidade a geração dos dias atuais (que na minha opinião é difícil de definir uma vertente) que acha que sabe o que é Rock de verdade e fica de quatro quando vê bandas do nível do Whitesnake. Como eu disse, tá longe de ser obra prima, mas pra quem não lançava um disco com material novo há 10 anos, Coverdale mostrou que ainda está em forma e sabe mexer nos elementos que caracterizaram sua banda, fazendo-os soar atuais.


As músicas de destaque são "Call on me", "Summer Rain", "Lay down your love" e a faixa título. A formação da banda é praticamente a mesma que vem estado em turnê com David desde 2004. A única troca (infelizmente) foi a do baterista Tommy Aldridge (que gravou os discos "1987", "Slip of the tongue" e "Restless Heart") por Chris Fraiser, que dá conta do recado, mas sabem como é né... O baixo está por conta de Uriah Duff, os teclados são de Timothy Drury (ex Eagles) e as guitarras estão por conta de Reb Beach (ex Winger) e do fantástico Doug Aldrich (ex Dio). Nenhum deles é Cozy Powell, Ian Paice, Jon Lord, Don Airey, John Sykes, Mel Galley, Neil Murray, Vivian Campbell, Adrian Vandemberg, Steve Vai e outros clássicos e consagrados músicos que passaram pela banda ao longo desses 30 anos, mas é uma garotada nova e cheia de energia que contagia bastante, fazendo referência e honrando os postos que assumiram no lugar de ícones da música.

Pra tentar fazer idéia do que poderá ser o show, o bom apreciador de música, conhecedores ou fãs do Whitesnake, tem que saber que a banda tem a sonoridade bem dividida ao longo dos seus recém completados 30 anos de carreira, e o atual set-list dos shows é a melhor mescla disso já vista na história da banda! O disco "1987" é o marco que estabelece essa divisão em definitivo, onde a banda começou a abandonar a linha de Blues Setentista e passou a entrar na linha Hard Poser Oitentista, com suas já tradicionais baladas como "Is this love", ou as músicas de refrão chiclete com sonoridade hard comercial como "Give me all your love tonight", até a poderosa "Still of the night", com uma boa mescla de todos esses elementos. Mas nunca mantendo de fora dos shows as canções que caracterizaram a banda em "Slide it in", como a bela balada "Love ain´t no stranger", a provocante e sensual "Slow and easy", além da presença de 2 clássicas canções do "Saints and Sinners" como a forte e pesada "Crying in the rain" (sempre executada em grande estilo para Covardale calar a boca de muita gente que diz que ele já era como vocalista) e balada hard "Here I go again", remodelada e executada como a versão de 87 . Não ignorando os sucessos dos anos 70, a arrebatadora "Fool for your loving", sempre urrada em uníssono pelas platéias, o tradicional Rhythem Blues de "Ready N´Willing" e o refrão marcante de "Don´t Break My Heart Again" (as duas primeiras do album "Ready N´Willing" e a última de belíssimo "Come and get it"). E claro, não ignorando nunca a marcante balada blues "Ain´t no love in the heart of the city", do 1° album de 1978 ("David Coverdale and Whitesnake"), onde Covardale fica com a platéia nas mãos! Fora a surpresa ao ouvir clássicos como "Bad Boys" ("1987"), "Walking in the shadow of the blues" ("Love Hunter"), e "Take me with you" ("Trouble"). E dos anos 90, eu diria que a única sobrevivente dessa fase "escorregadia" da banda é "Judgment Day" do album "Slip of the tongue", embora alguns fãs dessa geração sintam falta de "The deeper the love". E para não deixar de fora o início do início da carreira, David resolveu voltar as origens e homenagear a lendária banda que o lançou, o Deep Purple. Pra isso, conta-se com a execução de "Burn" e "Stormbringer" na abertura dos shows, e com o apoio vocal de Uriah Duff nas partes de Glenn Hughes; empolgando novatos, nostalgiando saudosistas, contagiando geral e prestando uma bela e justa homenagem a um passado tão glorioso. Tudo isso é o que podemos esperar que o Whitesnake vá trazer em sua turnê pelo Brasil. Mas pra quem não conhece ou não vê uma performance da banda há algum tempo, a minha dica é o dvd "Live in the still of the night", lançado em 2005 e que contem o show da turnê que esteve no Brasil, basicamente com esse set list aí!


Whitesnake é rock de qualidade, com raíz setentista e sonoridade única e marcante, e conta com um cantor que teve uma nítida transformação a nível de melhorias e performances de estilo único e referencial pra muita gente e que tá mais inteiro do que muito garotinho que pensa que canta! Quem conhece e gosta, continue ouvindo. Quem ouve esporadicamente, eu recomendo ouvir mais. E quem não conhece, não perca tempo e procure conhecer, pois coletânias desses caras é o que não falta no mercado, sejam de estúdio ou ao vivo! Recomendo "Live in the shadow of the blues" e "Best of Whitesnake".


Essas canções que citei costumam estar presentes em praticamente todos os shows da banda. E esperamos poder contar com elas por aqui. Seguem aí as datas dos shows. Obviamente que, se eu estiver presente (e eu espero estar!) vai rolar uma resenha aqui no blog.

Whitesnake no Brasil - Datas:
03-Mai-2008 - Manaus/AM - Arena Amadeu Teixeira
06-Mai-2008 - Belo Horizonte/MG - Chevrolet Hall
07-Mai-2008 - Rio de Janeiro/RJ - Citybank Hall
09-Mai-2008 - São Paulo/SP - Credicard Hall
10-Mai-2008 - Curitiba/PR - Helloch

Preços:
Poltrona: R$200,00
Pista: R$120,00
Camarote: R$250,00
Horário: 21h30min

Informações: www.ticketmaster.com.br

quarta-feira, 9 de abril de 2008

1492 - A Conquista do Paraíso

Acho que não existe coisa mais fascinante do que mesclar Cinema com História, apesar dos vários riscos que isso implica e os vários erros que surgem ao longo do processo. Não podemos dizer que existe uma maneira exata de se reproduzir a História e o seu factual, independente da fonte. Mas podemos sempre ressaltar que a fonte filmica, que atualmente vem ganhando um reconhecimento forte no meio acadêmico como fonte de estudo e pesquisa, geralmente é a que mais se aproxima de uma realidade histórica, seja através dos fatos, dos cenários, da indumentária ou dos costumes de uma época; mesmo que sejam acrescentados elementos literários e romancistas aos fatos, pois isso não exime a qualidade e a veracidade de uma obra. E é bem verdade que um historiador também não escreve um texto como eu estou escrevendo agora, mas não estou fazendo um artigo acadêmico e sim compartilhando uma visão pessoal de algo que me agrada e que acho válido compartilhar. Portanto, aos mais críticos que gostam de atirar pedras em que não escreve de acordo com as regras acadêmicas, parem a leitura por aqui!

O filme que escolhi para abordar dentro desses parâmetros é "1492 - A conquista do paraíso", do consagrado diretor Ridley Scott, produzido em 1992. O filme aborda a questão do descobrimento do "Novo Mundo", a descoberta do novo continente, a América, por Cristóvam Colombo, aqui brilhantemente interpretado por Gerard Depardieu.

Vale destacar o passeio histórico que o filme dá em diversas perspectivas. Para isso, vamos pontuar algumas questões. Europa, Século XV, Portugal e Espanha em busca de novos mercados para expandir territórios e buscar um meio de equilibrar sua economia. Fim da Idade Média, transição para Idade Moderna, com o fim do Feudalismo e de todas aquelas questões que envolviam as propriedades rurais como a sustentação da economia dos reinos. A busca por especiarias e metais preciosos se intensificava e a disputa por novas áreas de comércio se faziam mais que necessárias. Acreditava-se que o Oriente era o lugar onde se precisava chegar. as Índias (terra das valiosas especiarias), para atender as necessidades de ampliação dos mercados europeus afetados pela crise do século XIV (guerras, peste e fome), bem como, para eliminar o monopólio comercial italiano no Oriente. Para isso, expedições estavam sendo enviadas em busca de uma nova rota, visto que os Turcos bloquearam a principal rota de acesso com a tomada de Constantinopla em 1453 e dominaram o comércio de toda a região.

O filme começa com Colombo mostrando a seu filho como acreditava que a Terra era redonda como uma laranja, através da teoria dos navios que somem no horizonte. Uma bela cena inicial e impactante no início do filme, já mostrando uma abordagem das novas idéias do pensamento da época. Em seguida, podemos ver o diálogo entre ele e a Rainha Isabel de Castella, acertando os detalhes para a viagem. Colombo queria chegar as Índias através de uma nova rota e ninguém lhe deu crédito. Não sendo Espanhol e sim de origem Italiana, Colombo ficou sem ter a quem recorrer até que a Rainha resolveu lhe dar um crédito. Associado com os irmãos Pinzon, Colombo partiu do Porto de Palos no dia 3 de Agosto de 1492 com uma Nau (Santa Maria) e duas Caravelas (Pinta e Nina) seguindo pelo Atlântico em linha reta, acreditando assim que chegaria as Índias. Nessa parte do filme, são mostrados trechos da viagem até chegar o dia 12 de Outubro, onde eles avistam terra firme e chegam na Ilha de Guarani (Atual São Salvador). Acreditando estar nas Índias, Colombo se sente vitorioso e nem sequer imagina que encontrou terras desconhecidas e que haviam nativos naquele local.

Durante a exploração das terras, muitas coisas acontecem. É possível observar o comportamento distinto da Nobreza Européia, que escravizava os índios locais, abusavam de suas mulheres e usavam de violência. Destaque para a cobiça nos metais preciosos facilmente descobertos na região, o que despertou o interesse da Espanha em colonizar aquelas terras. E mais os perigos que os exploradores viveram ao tentar se virarem sozinhos sem ajuda dos índios, por estarem pisando num território totalmente desconhecido.

O filme mostra Colombo como um aventureiro, que pelo fato de acreditar que tinha chegado as Índias, passa a ter altos planos ao se dar conta que descobriu um mundo novo. Inicialmente, é estabelecida uma relação amistosa entre os espanhois e os nativos, até a interferência da nobreza por causa da cobiça. Colombo chega a construir uma Igreja no local, tentando implantar seus ideais para aquele novo mundo. Mas com o conflito instaurado entre Índios e Europeus (que viria a se tornar uma guerra violenta e longíqua ao longo do século XVI no período da América Colonial e muito bem descrito em detalhes no livro "Os mecanismos da conquista colonial" de Ruggiero Romano), Colombo foi ridicularizado por todos, tendo então regressado a Europa. Os 20 anos de sua vida abordados no filme fazem um passeio geral num personagem da História sempre lembrado como o "Descobridor da América", mostrando aqui uma imagem que vai bem além disso, e gerando a dúvida em que assiste se ele realmente era um sonhador iludido ou um visionário que fracassou na missão de fazer um novo mundo nas terras por ele descobertas. Já no século XVI, Américo Vespúcio é enviado para o Novo Mundo e mapeia a área, terminando a exploração e o lugar recebe o seu nome, América, tentantiva dos espanhóis de tirar Colombo de cena em definitivo.

O filme termina com Colombo velho, se lembrando de seus feitos e pedindo ao filho que não deixem que esqueçam o que ele fez. A cena de destaque é quando Colombo diz a um membro da Nobreza que não importa o que fosse feito dali pra frente, pois mesmo que muitos novos exploradores aparecessem e fosse além do que ele havia planejado fazer, ele é que tinha descoberto o local e que a História não apagaria isso. É de arrepiar.

Para quem quiser saber mais dados históricos sobre o período, recomendo a leitura de "A conquista da América: A questão do ouro" do Historiador Tzvetan Todorov, que é bem completo, abordando todas as questões do filme, tendo como base alguns diários de Colombo como fonte, e uma abordagem historiografica super completa do período.

"1492" é um filme épico, bem produzido e de alto valor em termos de qualidade de arte e um retrato da História Mundial que merece ser exaltado e apresentado para estudantes, leigos e experientes no ramos da História, pois é entendendo as raízes que é possível compreender certos quês e por quês da nossa atualidade.

O filme se encontra disponível em dvd e é fácil de encontrar em locadoras e lojas virtuais pra comprar. É uma boa dica pra quem aprecia o gênero e quer conhecer um pouco mais sobre História.

Título Original: 1492: Conquest of Paradise
Tempo de Duração: 155 minutos
Gerard Depardier (Cristovam Colombo)
Armand Assante (Sanchez)
Sigourney Weaver (Rainha Isabel)
Loren Dean (Rei Fernando)
Ángela Molina (Beatrix)
Fernando Rey (Marchena)
Michael Wincott (Moxica)
Tchéky Karyo (Pinzon)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

CHICO BUARQUE - CARIOCA AO VIVO EM DVD



Dizem que notícia velha não faz sentido em ser divulgada. Mas eu não tô noticiando, eu tô é dando uma dica, e muito boa pra quem aprecia música!

No final do ano passado, Chico Buarque de Hollanda lançou o dvd "Carioca Ao Vivo", show da turnê do disco homônimo lançado em final de 2006. Neste show, Chico toca o disco "Carioca" na íntegra e ainda relembra clássicos há muito tempo fora do seu repertório de shows e outros nunca gravados por ele. O show foi gravado em São Paulo e o set list é o mesmo de toda a turnê que rodou o Brasil e alguns países da Europa. Eu estive presente no show dessa turnê aqui no Canecão e digo que além de maravilhoso, a qualidade da obra se manteve impecável! Segue aqui uma pequena resenha do espetáculo registrado no dvd:

Abrindo com "Voltei a cantar" de Lamartine Babo, o que pra Chico é uma boa referência, visto que o último ano em que ele fez um show foi em 1999, na turnê do disco "As cidades", que também rendeu um cd e dvd ao vivo. Após essa breve introdução, Chico emenda "Mambembe", do filme "Quando o carnaval chegar" e que foi uma agradável surpresa! Em seguida, já entrando no disco novo, vem "Dura na queda", previamente gravada por Elza Soares.
Após o seu já conhecido e tímido boa noite para o público, a banda começa "O Futebol", onde Chico faz rimas de primeira qualidade enaltecendo o esporte mais popular do Brasil.
Em seguida, começa a introdução de "Morena de Angola", outra surpresa! Destaque para o instrumentinho (desculpem a minha ignorância por não saber o nome) que Chico usa na parte onde Clara Nunes fazia aqueles gritinhos. Muito legal!

De volta a "Carioca", começa uma seqüência com 5 canções do disco: "Renata Maria", rara parceria de Chico com Ivan Lins. Uma música um tanto morna na minha modesta opinião. "Outros sonhos" é deliciosa! É possível sentir na melodia tudo o que a letra diz, e também o canto do passarinho espanhol na flauta e nos versos em espanhol ao fim da canção que Chico canta. Muito boa! Após essa, Chico canta em dueto com a vocalista/tecladista de sua banda, Bia Paes Leme, uma de suas melhores parcerias com Tom Jobim, "Imagina", originalmente feita em 1983 para o filme "Para viver um grande amor" de Miguel Faria Jr. Linda canção, belíssimo dueto, me arrisco a dizer até melhor do que o com Mônica Salmasso que está gravado no disco. Logo depois, temos "Por que era ela, por que era eu", tema do filme "A Máquina" e o fim da seqüencia com a suave "Sempre". Fechando essa parte de músicas tristes e suaves, a belíssima "Mil perdões", uma canção bem Rodrigueana e há muito tempo não executada, levou os presentes ao delírio!

Agora Chico viaja nos clássicos de trilhas que fez para teatro. "A História de Lily Brown" foi uma surpresa arrebatadora! Chico nunca gravou essa canção, que foi originalmente gravada por Gal Costa no disco do musical "O Grande Circo Místico", de Chico e Edu Lobo. Um arranjo de blues de primeira qualidade por parte da banda e aquela interpetação singelamente Buarquiana. Em seguida, outra surpresa: "A bela e a fera", do mesmo musical e gravada originalmente por Tim Maia e nunca gravada por Chico. Belas pedidas! Depois dessa, mais uma surpresa: "Ela é dançarina", um fofo sambinha canção do disco "Almanaque", com uma letra cheia de rimas de primeira!

De volta a "Carioca", chico executou 2 das melhores do disco: "As atrizes" e a carioquíssima com clima de bossa nova "Ela faz cinema". E carioca e Bossa Nova lembram Tom Jobim e eis que Chico, para delírio de muitos, desenterra uma de suas melhores parcerias com Tom: "Eu te amo", imendada por "Palavra de Mulher", do filme "Ópera do Malandro" de Ruy Guerra. Chega a vez do bolero "Leve", composição antiga de Chico com Carlinhos Vergueiro, para a filha dele gravar no disco dela, mas que Chico nunca havia gravado e resolveu gravar em "Carioca". E depois, como sempre faz com um de seus músicos a cada disco novo lançado, homenageou seu baixista Jorge Helder com a linda "Bolero Blues", 1° parceiria dos dois. E fechou esse bloco de boleros e melodias finas com a clássica "As vitrines".

Novo bloco, mais uma canção de "Carioca". "Suburbio" faz um passeio por bairros do Rio nunca citados em músicas de Chico ou da galera de sua geração. E é tão lírica e gostosa de se ouvir, mesmo tempo um palavrão (foda) no meio, soa com uma graciosidade intensa como só Chico sabe fazer! Logo após, Chico emenda "Morro dois irmãos", outra surpresa há muito tempo não cantada. Em seguida, um clássico do disco "Paratodos", que nunca fica fora dos shows: "Futuros Amantes", cantada em uníssono pela platéia.

Quando muitos pensavam que era o fim, Chico surpreende com outro clássico que há anos não tocava: "Bye Bye Brasil", parceria com Roberto Menescal do filme homônimo. Depois, veio "Cantando no toró" do album de 87 "Francisco", e em meio aos versos de "festa acabada e músicos a pé", ele apresentou sua fantástica banda e chamou o baterista Wilson das Neves, onde dividiram os vocais em "Grande Hotel", parceria de Chico com o baterista feita em 1997 e nunca gravada por Chico. Destaque para a simplicidade e alegria de Wilson das Neves sambando ao lado de Chico, que mesmo tímido, fica nitidamente emocionado por estar homenageando seu baterista. Um momento apoteótico deste show!

E pra encerrar a primeira parte do show, mais duas músicas de teatro: "Ode aos ratos", do musical "Cambaio" gravada em "Carioca" (e por sinal, a última música do disco no show) e "Na Carreira", que abre o musical "O Grande Circo Místico". Ambas parcerias com Edu Lobo. Chico se retira do palco, mas todos sabiam que ele voltaria.

Nitidamente feliz e emocionado, Chico manda o clássico samba de Geraldo Pereira que ele gravou no disco "Sinal Fechado" e que ficou com um ar Buarquiano: "Sem Compromisso" e emenda logo em seguida com "Deixe a Menina". Ambas foram cantadas com entusiasmo pela platéia. Final de show, hora de clássicos e "Quem te viu quem te vê" não ficaria nunca de fora e as vozes femininas da platéia ecoam bem alto. Chico se retira mais uma vez e o côro de "mais um" começa a ecoar. Um show de Chico sem "João e Maria" jamais seria completo e todos sabem disso. E o nosso caro amigo não deixou o público na mão, encerrando a noite com esse belo clássico!


33 músicas, Chico Buarque e banda em plena forma, um registro de show feito com muita qualidade e naturalidade sem o apelo de recursos técnicos e obra obrigatória na prateleira de um bom apreciador de música, fã do cara ou não! Disponível em Cd e Dvd (e claro, na internet também...). Eu recomendo!!!

SANGUE NO PESCOÇO DO GATO



Para inaugurar esse cantinho, quero começar falando de um projeto do qual venho participando nos últimos 4 meses. Estou falando do espetáculo "Sangue no pescoço do gato", uma peça do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder. Esse espetáculo é a peça de formatura dos alunos formandos da Escola de Teatro Leonardo Alves, onde eu também me formei em teatro. A estréia ocorreu no dia 07/03 e teve mais 3 apresentações na própria escola. Agora os atores estão se preparando para migrar pra Fundição Progresso, tradicional point na Lapa (Rio de Janeiro). A direção é de Márcio Moreira (fundador da Comapanhia de Atores Invisíveis e professor de interpretação na ETLA), a assistência de direção é deste que vos escreve e a edição de vídeos e escolha da trilha sonora é de Kátia Jorgensen. Ainda vamos falar muito dessa peça aqui no blog. Trarei sempre atualizações e novidades sobre ela, incluindo entrevista com os atores, com o diretor, entre outras coisas.

O enredo da peça é o seguinte:

Phoebe Zeigeist (ou Espírito dos Tempos) foi enviada a Terra de um planeta distante para fazer uma reportagem sobre os humanos. Porém, ela se encontra em dificuldades porque não entende a língua dos humanos. Junto de Phoebe, temos em cena 9 personagens, que podemos caracterizar como esteriótipos de uma sociedade de classe média. E esses personagens interagem entre si, enquanto Phoebe os observa e vai aprendendo a falar, falando coisas soltas, que ela sequer pode compreender o significado.

A peça é impactante do início ao fim! Logo de cara, ao abrir as cortinas, nos deparamos com todos os personagens... mortos! Sim, todos estão mortos e Phoebe está sentada em uma cadeira, de cabeça baixa. O cenário é a coisa mais simples possível: Uma cadeira comum, uma cadeira acolchoada, uma mesa e um cubo - todos vermelhos da cor de sangue. Ao fundo da parede, uma inovadora surpresa: uma projeção de imagem em vídeo, mais conhecida como projeção de cinema. Não sei afirmar se isso é inédito na história do teatro, mas que foi uma ousadia de primeira por parte do diretor Márcio Moreira, isso foi!

O espetáculo tem início com um clip de abertura no telão, com a música "There There" da banda Radiohead ao fundo. Neste clip, são exibidas várias imagens, em espcial algumas da Terra no espaço, e a cada intervalo de imagem, aparecem os atores que estarão estrelando a peça, como se fosse um filme. Idéia genial e um referencial claro ao autor do texto, que é cineasta. Uma bela mescla de cinema e teatro. Em meio a música, os personagens, mortos no chão até o momento, começam a se levantar aos poucos e olham em volta como se estivessem acordando de um sonho, tendo olhares e reações de compreensão do tipo "onde estou, o que aconteceu, quem sou eu e o que estou fazendo aqui." A exceção de Phoebe, começam a caminhar pelo espaço e conforme a música fica mais intensa, a caminhada deles também, e todos começam a se trombar e fica uma tremenda confusão em um rítmo frenético, passando assim uma imagem de caos total. Ao terminar a música, todos param de frente para o público e uma voz anuncia quem é Phoebe. E a coisa começa pra valer.

A peça possui 3 atos. No 1° ato, os 9 personagens se apresentam através de um monólogo. Eles falam de si mesmos tentando interagir com Phoebe, que nada fala (afinal, ela não conhece a língua), mas observa e repete os gestos que vê. A impressão que dá é que ao mesmo tempo que ela está ali, é como se ela não estivesse. Então vemos a apresentação dos personagens: O Policial, O Açougueiro, O Gigolô, O Soldado, O Professor, A Mulher do Soldado Morto, A Moça, A Modelo e A Amante. Os personagens não tem nome, estão esteriotipados, mas são bem humanos, apresentando características presentes em todos nós, seja no comportamento social ou no comportamento humano que cada um tem dentro de si. Enquanto cada um está fazendo seu monólogo, ao fundo do telão (que nunca fica desligado durante o espetáculo) rolam imagens opostas dos personagens, que contrastam tudo que eles estão falando e fazendo, gerando no público aquela dúvida do que isso significaria e o que chama mais atenção, as imagens ou a cena?

Na transição do primeiro para o segundo ato, vemos mais coisas que chamam atenção. Os personagens vão interagir entre si em diálogos. Todos os personagens dialogam neste ato, ninguém fica sem falar com ninguém. Temos 9 personagens e 36 diálogos nessa seqüência. É interessante observar que nenhum diálogo tem relação com outro e nenhum personagem tem ligação entre si, e que a cada diálogo, os personagens agem de acordo com a situação que está rolando, e mais: Phoebe começa a falar. Ao final de cada diálogo, a alienígena repete alguma coisa que foi dita pelos personagens. Frases soltas que ela ouviu e repetiu, e obviamente, não sabe o significado. No meio do segundo ato, ao invés de ficar só repetindo as palavras, ela passa a interagir com ações físicas, o que demonstra que a personagem está tentando se "humanizar". Outra coisa que chama atenção é o rítmo que os atores colocam nesses diálogos. Dentro desses diálogos, temas diversos são abordados a cada cena: briga, amor, roubo, traição, dinheiro, amizade, sexo, homosexualismo, cafetinagem, casamento e etc. Várias situações que vemos no cotidiano da nossa sociedade e como as pessoas se comportam dentro dela e como são verdadeiramente no seu "eu" interior.
Enquanto uma cena está rolando, do lado de fora da cena (e dentro do palco), tem uma dupla posicionada para entrar assim que a cena terminar. Os atores estão incorporados nos personagens e na situação que eles vão viver no diálogo assim que a cena que está em pauta terminar. Acho que minha explicação não foi muito coerente, mas é difícil definir em palavras o que é isso. Outro detalhe que chama a atenção: durante os diálogos, cenas diversas estão rolando no telão. Vemos desde 11 de Setembro a baile funk, Xuxa, Hebe Camargo, Hamlet, Osama Bin Laden, Adolph Hitler, e até uma impactante cena de sexo gay. Imagens desconexas do mundo, impactando, gerando dúvidas sobre o que estão fazendo ali e acima de tudo, refletindo em temáticas de comportamento humano inseridas na peça.


Ao encerrar o 2° ato, vamos para o 3°, onde está rolando uma festa e todos os personagens vão interagir, inclusive Phoebe. O texto é o mais desconexo possível, nada faz sentido diante do que já foi visto até então. E Phoebe começa a interagir no papo com as pessoas usando todas as palavras que ela havia aprendido enquanto observava. Embora ela tenha entendido as palavras e tenha conseguido aprender a dizê-las, ela não entendeu o significado de nada. Então sempre que fala, Phoebe fala coisas sem saber o sentido e gera uma tremenda confusão no ambiente. Paralelo a isso, por ser uma festa, os personagens aos poucos começam a soltar a sua verdadeira personalidade, aquela que era mostrada como contraste no telão no primeiro ato. Acoada por não entender o que está acontecendo e ver as pessoas se voltando contra ela por causa das coisas que estava dizendo, Phoebe reage como um animal acoado, ela mata, ataca pra se defender daquilo que ela não está entendendo e teme que possa fazer mal a ela. Com uma mordida no pescoço, semelhante a um vampiro, ela vai matando um por um, até todos caírem mortos e ela se ver ali, sozinha, tentando entender o sentido de tudo e o que ela de fato aprendeu sobre os humanos. Então Phoebe abaixa a cabeça, as luzes apagam e ouve-se uma explosão e um miado de gato, e no telão, começam a subir os créditos da peça, com o nome dos atores e seus respectivos personagens e a ficha técnica - mais uma vez evocando ao cinema, como se o espetáculo tivesse sido um filme. Cartada de mestre!

O interessante é observar a mesma imagem do início do espetáculo no final: todos mortos e Phoebe sentada no meio deles. É o tipo de coisa que gera uma série de questionamentos sobre o que está acontecendo no mundo, se dentro da nossa sociedade nós vemos coisas desse tipo, quero dizer, a metáfora representativa através de Phoebe é que o ser humano é o principal responsável pela sua própria destruição. E as máscaras que cada um de nós veste para o mundo nos faz questionar a necessidade e os porquês de cada comportamento em situações diferentes. É uma peça que faz a platéia sair do teatro pensando e querendo entender o sentido disso tudo, e que provoca um choque. Existem situações de humor dentro da peça também, mas são situações onde o humor é negro e ao mesmo tempo, natural, sem forçar, o que equilibra a energia da peça, por ser um texto dificil e forte, tanto para os atores quanto para a platéia.

Destaque para Lanna Jacomo fazendo a Phoebe, que rouba a cena e se supera em cada apresentação! Um trabalho pra aplaudir de pé devido a tantas mudanças corporais e expressivas durante o espetáculo e que vai num crescente do início ao fim!
Os outros atores também estão muito incorporados aos seus personagens, valendo destacar Rafhael Garcez, que desenvolveu um trabalho de expressão corporal louvável e com cenas ousadas que garantem ótimas cenas; Luana Duccini com sua Modelo, trazendo um trabalho de interpretação muito firme e uma expressão muito boa; Silvana Medeiros e sua Amante firme e poderosa, dona de si e super autêntica, passando a segurança na expressão da atriz; Márcia Borges e a sua viúva sofrida e cheia de convicções, com uma interpretação bárbara; Marcelo José e sua energia intensa no Policial; Esthevan Poubel como um soldado que oscila entre a seriedade e um jeito moleque que garante algumas risadas durante a peça; Lucas Abbondati com um Açougueiro de dupla personalidade, a de menino sofrido e a de lunático; Roberta Moreira e sua Moça que está em conflito constante sobre a transição entre ser e deixar de ser moça pra virar mulher; Karine Coelho com uma Amante diferente, jovem e com uma personalidade diferente; e por último, o ator convidado Marcel Cavalcante, que dá uma aula de interpretação como Professor e seu conflito homossexual de "ser ou não ser", garantindo sem dúvida as melhores cenas do espetáculo.

"Sangue no pescoço do gato" é sem dúvidas uma peça de muita qualidade e que merece ser vista por todos que apreciam um bom teatro. Sempre que possível, estarei trazendo coisas sobre esta peça, inclusive as datas de apresentação na Fundição Progresso. Quem quiser conferir algumas fotos do espetáculo, é só clikar em http://www.etla.com.br/sangue/index.htm ou então a comunidade do orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=48087850

Por enquanto é só. Espero que apreciem e deixem seus comentários.


SANGUE NO PESCOÇO DO GATO
DIREÇÃO: Marcio Moreira
ASSISTENTES DE DIREÇÃO: Yuri Calandrino e Raphael Pinta
EDIÇÃO DE VÍDEOS E TRILHA SONORA: Katia Jorgensen
ELENCO: Lanna Jacomo; Marcelo José; Lucas Abbondati; Rafhael Garcez; Esthevan Poubel; Marcel Cavalcante; Márcia Borges; Roberta Moreira; Luana Duccini; Silvana Medeiros & Karine Coelho.